Eram 21
de março de 2011. Estávamos reunidos entre amigos em um grupo de estudos com o objetivo de reflexão acerca de conhecimentos universais, espirituais, ético-morais, envolvendo autoconhecimento e busca de nossa autotransformação. Pautávamos nosso diálogo a partir de breve leitura da obra de Léon
Denis (grande filósofo e homem de ciência, venerável figura que compõe os alicerces da Doutrina Espírita) intitulada No Invisível. Os
textos-base para a pauta da noite foram os subintens X – Formação e direção
dos grupos. Primeiras experiências e XI – Aplicação moral e frutos do
Espiritismo, ambos constantes da primeira parte (O Espiritismo
experimental: As leis).
O trecho lido do subitem X
aborda a disciplina necessária na formação de grupos mediúnicos experimentais
de efeitos físicos (mesas). Alternância entre homens e mulheres ao redor da
mesa, duração máxima das tentativas, primeiros efeitos, convenção de sinais
para as comunicações, etc. Já no subitem XI, dentro do trecho lido, abordam-se
as contribuições da Religião e da fenomenologia medianímica para os estudos da
Ciência como também os fundamentos científicos que sedimentam, explicam,
desmistificam as ocorrências religiosas no nível do transcendente.
Em dado momento, após tecidas algumas considerações a respeito do tema em questão, senti-me envolvido e irradiado pela mente espiritual
do coordenador dos estudos, e este esclareceu que a obra de
Léon Denis, como as demais obras que havíamos elencado para estudo e análise, trazem fundamentos do Espiritismo,
o que é a proposta de tais obras, mas ressaltou que, ao sermos estudiosos
holísticos, cabe-nos o discernimento de que a Verdade, as grandes leis,
permeiam todas as filosofias, todas as ciências, todas as religiões, cada uma
contendo um recorte da realidade do Todo.
Um dos integrantes comentou sua discordância quanto à
postura de grande parte dos universalistas, extremamente superficiais em seus estudos,
porquanto se apropriam de um mínimo de cada conhecimento, não tendo base
profunda sobre nenhum deles. Colocou considerar-se espírita e ter no Espiritismo inegavelmente a terceira revelação.
O orientador espiritual informou haver
uma grande distorção do sentido dado à palavra ‘universalista’ hoje. Explicou
que a palavra ‘universo’ é a forma composta de ‘uni = uno’ e ‘verso = oposto’.
O uno é o um (1), a unidade, a coesão da criação, é o princípio original de
tudo, é a consciência manifesta, o ser manifesto de Deus, é a presença divina
em toda a obra. O verso é o outro; é o potencial de criação; é o Poder ainda
não direcionado; é o lado imanifesto; é o não-ser, ou antes, a possibilidade de
tudo ser; é a origem de todas as origens; é numerologicamente o zero (0). Fique claro que o zero não é entendido aqui como o nulo, a ausência de tudo; é antes o potencial latente do surgimento de tudo, é a energia de potência anterior ao nascimento do manifesto, é o vir-a-ser.
O
universalismo é espiritualmente entendido, pois, como a busca, o estudo e a
vivência integrada do universo, são as leis e princípios subjacentes a tudo que
existe, a todos os conhecimentos, filosofias, crenças, valores. O universalismo
são as leis da Sabedoria. Assim sendo, o verdadeiro sentido de ‘universalista’
é ‘aquele que busca as leis, estuda as leis e vivencia as leis universais’ nas
práticas cotidianas. Ser universalista é viver em integração, harmonia e
respeito para com a natureza e seus reinos.
Assim sendo, universalismo
tem um significado muito mais sublime, completamente distinto de misticismo.
Conforme o orientador, o que se vê muito são os comportamentos místicos em
desequilíbrio de fé, gerando uma busca desenfreada e simultânea por recursos e
rituais que tragam respostas, no mais das vezes, imediatistas às angústias
humanas. A pessoa vai à terreira, vai à cartomante, vai à cigana, acende
incenso, usa o pêndulo, usa a mandala, consulta o tarot, consulta as runas,
acende vela na igreja, participa do culto de libertação da Universal, ignorando
os fundamentos energéticos que subjazem cada um desses ambientes e trabalhos
específicos, misturando tudo numa ânsia sufocante de encontrar um norte que
parece nunca chegar, gerando muito mais confusão do que paz espiritual. Evidentemente que cada uma dessas vertentes de trabalho espiritual tem o seu valor e merecem todo o respeito e consideração. Não há crítica quanto ao frequentar, quanto ao lançar mão desses recursos. Tudo isso é válido, sem sombra de dúvidas. O ponto em questão é o como se usa tais ferramentas de fé, de sintonização espiritual. É o quanto estamos mais ou menos conscientes das implicações de cada forma de ancoramento da energia de conexão com a divindade.
Foi
frisado que o misticismo, o místico em si, não é prejudicial; há toda a sua
sabedoria, ensinamentos por trás de cada prática, de cada culto. Prejudicial é,
contudo, misturar as linhas, ligar variadas correntes energéticas como num ato
automatizado, mecânico, de tábua de salvação, ludibriando-se na ideia de que as
soluções para as grandes questões de nossas vidas estão no externo, no local,
no talismã, no ritual, quando em verdade o único e verdadeiro templo sagrado
que pode responder aos nossos anseios e serenar nossas mentes e corações é a
Sabedoria que portamos dentro de nós. Tudo está dentro, não há nada fora, pois
mesmo o que está fora é apenas o reflexo projetado do que vai em nosso
espírito. Assim, o universalismo é mais um estado de espírito, uma postura interior ante a vida, a natureza, a criação, que propriamente o professar variadas correntes teórico-práticas do pensamento religioso.
Fica o convite a que sejamos universalistas, sim, no pensar, no doar, no apoiar, no olhar, no falar, no trabalhar, no meditar, no transformar de nossas realidades individuais e coletivas.
Muita luz e muita paz a todos.