Da obra "Os Dragões - O diamante no lodo não deixa de ser diamante", psicografia de Wanderley Oliveira pelo espírito de Maria Modesto Cravo:
[...] Veja o que aconteceu com Jesus. Nada de mal Ele fez. Ao contrário, foi a bondade lúcida em todos os instantes de Sua inimitável trajetória. E o que Lhe foi feito?
- Nós o crucificamos.
- Continuamos a fazer isso com Jesus, meu irmão. Não mais à Sua pessoa, mas à Sua mensagem gloriosa. Quando alguém reflete em si mesmo a luz excelsa do bom exemplo e da virtude, incomoda-nos essa luminosidade, porque diante da grandeza e do valor alheio tomamos contato com nossa própria inferioridade, e dói-nos percebê-la.
Jesus incomodou e incomoda até hoje. Sua beleza espiritual é um espelho continuamente voltado para quem se interessa por Sua proposta de redenção.
O maior teste para nosso orgulho consiste em estar diante da superioridade alheia. A luz dos outros revela-nos a sombra interior. Os alegres assustam os mal-humorados. Os bons perturbam os mal intencionados. Os destemidos são lembretes vivos para os acomodados nas teias do medo. Os empreendedores atiçam a impotência dos despreparados. Os inteligentes insultam os ignorantes. O virtuoso, sem desejar, desnuda as mazelas de quem pretendia mantê-las ocultas em si mesmo. As conquistas espirituais manifestadas na boa vontade e na capacidade de servir são um estorvo para almas como nós, ainda inseguras e vacilantes na caminhada da melhoria moral. [...]
Assim, atazanados pelos êxitos alheios, perdemos a autenticidade procurando parecer o que não somos para diminuir a luz que nos ofusca; sentindo-nos impotentes diante da agilidade e destreza de outrem, não conseguimos conter os ímpetos de maledicência, com a qual procuramos empanar o brilho do próximo. E, em muitas ocasiões, não sabendo como reduzir a superioridade de outrem, adotamos a indiferença como único recurso de proteção contra nossa própria fragilidade.
Quanta sabedoria, não é mesmo? Quanto temos para pensar e reformular nossos atos a partir dessas verdades irrefutáveis. E tudo isso está diretamente ligado ao que simbolicamente o Cristo disse através da Sua máxima: "Eu não vim trazer a paz, mas a divisão". Sim, porque o Cristo veio trazer a Verdade, e a Verdade não é só o conhecimento; a verdade é o conhecimento aplicado por meio da retidão moral, a retidão de conduta. A moral reta é LUZ espiritual, e, obviamente, qualquer conduta menos nobre, qualquer verniz social por conveniências, qualquer "verdade" que sustentemos para as aparências, e não para a essência torna-se um padrão de comportamento ilusório e, com o tempo e com a repetição, muitas vezes a ilusão se torna tão real que passamos a acreditar que somos aquilo que criamos como verniz. Esse distanciamento da essência gera a SOMBRA espiritual.
Quando agimos em conformidade com nossa essência, deixando transparecer nossos múltiplos talentos, habilidades, aptidões, isso gera uma luz, uma vibração especial, um magnetismo próprio, que se expande em seus efeitos, atraindo a atenção alheia. Quando o outro está bem resolvido, quando se alegra com a oportunidade de aprender com o outro ou através dos atos do outro, a luz se multiplica, e todos ganham. Isso gera a paz.
Quando, no entanto, e infelizmente ocorre na maioria dos casos, o talento que alguém apresenta incomoda internamente o outro, ofusca-lhe a arrogância, perturba-lhe as bases emocionais, isso gera a divisão, a discórdia. E o pior que, muitas vezes, pouca coisa já é suficiente para causar todo esse mal-estar. Ser espontâneo ao cumprimentar alguém, ser bem-humorado nas pequenas questões do dia-a-dia, ter desenvoltura ao falar, saber ser discreto sempre que necessário, não falar mal de alguém - nem pela frente nem pelas costas, procurar sempre uma palavra certa, de conciliação, às vezes, só isso já atormenta quem não consegue se aproximar de tais atitudes em sua própria vida. Muitos se incomodam quando recebemos um elogio e demonstram, em seu olhar, um descaso, um despeito, porque não só não conseguem elogiar, como também gostariam de estar no lugar de quem está sendo elogiado, e se elogiassem, isso, ao seu ego, soaria como ter de admitir o valor evidente do outro. Isso é como ter de beber fel.
Ora, o Cristo era exatamente a figura da autenticidade, da habilidade nata e espontânea, era o dom por si mesmo, e não por ostentação, não para querer aparecer. Justamente essa condição inata do Cristo e a reação que muitos tinham às suas habilidades e valor de grandeza moral foram o que fez o Cristo pronunciar: "Eu não vim trazer a paz, mas a divisão". Sua mensagem foi e é de paz, evidentemente, porém o convulsionar das almas, dos corações e das mentes que ainda se melindram perante uma verdade que lhes fere os brios e que expõe suas fraquezas íntimas necessariamente ainda gerará, enquanto não houver uma tomada de consciência sobre as transformações que cada um deve fazer em si mesmo, posturas de discórdia e divisão.
A LUZ DE FORA só incomoda quando predomina dentro de nós a sombra. No momento em que crescemos, amadurecemos intelectual e moralmente e tornamos nossa vida um reflexo da integridade e retidão de caráter, a LUZ DE DENTRO se acende e se torna uma potência tão forte e intensa que a luz de fora, a que vem do outro, soma-se à luz de dentro, a que despertamos em nós mesmos, formando um foco coeso de incandescência moral.
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