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quarta-feira, 1 de maio de 2013

LUZ DE DENTRO E LUZ DE FORA


Da obra "Os Dragões - O diamante no lodo não deixa de ser diamante", psicografia de Wanderley Oliveira pelo espírito de Maria Modesto Cravo:
[...] Veja o que aconteceu com Jesus. Nada de mal Ele fez. Ao contrário, foi a bondade lúcida em todos os instantes de Sua inimitável trajetória. E o que Lhe foi feito?
- Nós o crucificamos.
- Continuamos a fazer isso com Jesus, meu irmão. Não mais à Sua pessoa, mas à Sua mensagem gloriosa. Quando alguém reflete em si mesmo a luz excelsa do bom exemplo e da virtude, incomoda-nos essa luminosidade, porque diante da grandeza e do valor alheio tomamos contato com nossa própria inferioridade, e dói-nos percebê-la.
Jesus incomodou e incomoda até hoje. Sua beleza espiritual é um espelho continuamente voltado para quem se interessa por Sua proposta de redenção.
O maior teste para nosso orgulho consiste em estar diante da superioridade alheia. A luz dos outros revela-nos a sombra interior. Os alegres assustam os mal-humorados. Os bons perturbam os mal intencionados. Os destemidos são lembretes vivos para os acomodados nas teias do medo. Os empreendedores atiçam a impotência dos despreparados. Os inteligentes insultam os ignorantes. O virtuoso, sem desejar, desnuda as mazelas de quem pretendia mantê-las ocultas em si mesmo. As conquistas espirituais manifestadas na boa vontade e na capacidade de servir são um estorvo para almas como nós, ainda inseguras e vacilantes na caminhada da melhoria moral. [...]
Assim, atazanados pelos êxitos alheios, perdemos a autenticidade procurando parecer o que não somos para diminuir a luz que nos ofusca; sentindo-nos impotentes diante da agilidade e destreza de outrem, não conseguimos conter os ímpetos de maledicência, com a qual procuramos empanar o brilho do próximo. E, em muitas ocasiões, não sabendo como reduzir a superioridade de outrem, adotamos a indiferença como único recurso de proteção contra nossa própria fragilidade.

Quanta sabedoria, não é mesmo? Quanto temos para pensar e reformular nossos atos a partir dessas verdades irrefutáveis. E tudo isso está diretamente ligado ao que simbolicamente o Cristo disse através da Sua máxima: "Eu não vim trazer a paz, mas a divisão". Sim, porque o Cristo veio trazer a Verdade, e a Verdade não é só o conhecimento; a verdade é o conhecimento aplicado por meio da retidão moral, a retidão de conduta. A moral reta é LUZ espiritual, e, obviamente, qualquer conduta menos nobre, qualquer verniz social por conveniências, qualquer "verdade" que sustentemos para as aparências, e não para a essência torna-se um padrão de comportamento ilusório e, com o tempo e com a repetição, muitas vezes a ilusão se torna tão real que passamos a acreditar que somos aquilo que criamos como verniz. Esse distanciamento da essência gera a SOMBRA espiritual.
Quando agimos em conformidade com nossa essência, deixando transparecer nossos múltiplos talentos, habilidades, aptidões, isso gera uma luz, uma vibração especial, um magnetismo próprio, que se expande em seus efeitos, atraindo a atenção alheia. Quando o outro está bem resolvido, quando se alegra com a oportunidade de aprender com o outro ou através dos atos do outro, a luz se multiplica, e todos ganham. Isso gera a paz.
Quando, no entanto, e infelizmente ocorre na maioria dos casos, o talento que alguém apresenta incomoda internamente o outro, ofusca-lhe a arrogância, perturba-lhe as bases emocionais, isso gera a divisão, a discórdia. E o pior que, muitas vezes, pouca coisa já é suficiente para causar todo esse mal-estar. Ser espontâneo ao cumprimentar alguém, ser bem-humorado nas pequenas questões do dia-a-dia, ter desenvoltura ao falar, saber ser discreto sempre que necessário, não falar mal de alguém - nem pela frente nem pelas costas, procurar sempre uma palavra certa, de conciliação, às vezes, só isso já atormenta quem não consegue se aproximar de tais atitudes em sua própria vida. Muitos se incomodam quando recebemos um elogio e demonstram, em seu olhar, um descaso, um despeito, porque não só não conseguem elogiar, como também gostariam de estar no lugar de quem está sendo elogiado, e se elogiassem, isso, ao seu ego, soaria como ter de admitir o valor evidente do outro. Isso é como ter de beber fel.
Ora, o Cristo era exatamente a figura da autenticidade, da habilidade nata e espontânea, era o dom por si mesmo, e não por ostentação, não para querer aparecer. Justamente essa condição inata do Cristo e a reação que muitos tinham às suas habilidades e valor de grandeza moral foram o que fez o Cristo pronunciar: "Eu não vim trazer a paz, mas a divisão". Sua mensagem foi e é de paz, evidentemente, porém o convulsionar das almas, dos corações e das mentes que ainda se melindram perante uma verdade que lhes fere os brios e que expõe suas fraquezas íntimas necessariamente ainda gerará, enquanto não houver uma tomada de consciência sobre as transformações que cada um deve fazer em si mesmo, posturas de discórdia e divisão.
A LUZ DE FORA só incomoda quando predomina dentro de nós a sombra. No momento em que crescemos, amadurecemos intelectual e moralmente e tornamos nossa vida um reflexo da integridade e retidão de caráter, a LUZ DE DENTRO se acende e se torna uma potência tão forte e intensa que a luz de fora, a que vem do outro, soma-se à luz de dentro, a que despertamos em nós mesmos, formando um foco coeso de incandescência moral.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

PARA OUVIR A CONSCIÊNCIA

Pessoal, estou lendo novamente a obra Os Dragões - o diamante no lodo não deixa de ser diamante, psicografia de Wanderley Oliveira, da Editora Dufaux pelo espírito de Maria Modesto Cravo, e chamou-me a atenção, pelo alto de teor sinceridade e demonstração do que significa autodescobrimento, a mensagem expressa pelo próprio médium Wanderley, no capítulo intitulado "Meus Desafios perante a Maioridade do Espiritismo", a qual transcrevo nas linhas que seguem, compartilhando essa profunda e necessária revisão interna a que todos nós precisamos nos predispor executar em nosso próprio proveito evolutivo:
"Talvez em poucas linhas eu não consiga retratar as dores e as alegrias que experimentei nesse decênio. Hoje, passados dez anos de lições, eu quero dizer: valeu a pena!"
"Entre erros e acertos, aqui estou eu, saudável, trabalhando como nunca, dando o meu melhor e certo de que a maior de todas as vitórias foi uma só: estou aprendendo a ouvir minha própria consciência."
"Para ouvir minha consciência, tive de deixar de ouvir muitos amigos que não tinham a menor noção do que eu realmente preciso para crescer como espírito eterno."
"Para ouvir minha consciência, tive de aprender a valorizar o que vale e o que não vale a pena ser valorizado sobre o que falam a meu respeito, e também acerca do trabalho que realizo em nome de Jesus."
"Para ouvir minha consciência, tive de entender que confiança irrestrita é uma ilusão e que precisamos aprender a dizer não."
"Para ouvir minha consciência, aprendi que jamais vou agradar a todos."
"Para ouvir minha consciência, aprendi também que não posso avançar sozinho."
"Para ouvir minha consciência, hoje entendo que a vaidade é a mais grave doença dos médiuns, mas que jamais será erradicada sem a coragem de investigá-la de frente."
[...]
"Só queria acrescentar algo que vem bem lá do fundo do coração: como me sinto bem depois de tantas e preciosas lições! As cirurgias dolorosas me fizeram muito bem. O melhor de tudo é poder dizer que não me sinto especial por tudo o que passei, mas me sinto gente, me sinto humano. Como agradeço aos céus por terem me ensinado o caminho para livrar-me, pouco a pouco, do peso do perfeccionismo e das máscaras de superioridade."
[...]
Sem sombra de dúvida, são carregadas de sabedoria as palavras do nosso irmão Wanderley.
Espero que este seja mais um ensinamento proveitoso aos leitores amigos.

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Vivamos com Sabedoria

Recebi, recentemente, um e-mail intitulado "Manual para 2013". 
Não acho que seja um manual apenas para este ano, mas esta mensagem contém dicas, orientações valiosas, sim, para que definitivamente nos aproximemos mais de nossa essência, do SER, afastando-nos um pouco do TER, e isso viabilizará melhores condições para que tenhamos a lucidez necessária para bem conduzirmos as nossas vidas e o nosso relacionamento com o próximo (todo aquele que convive conosco ou que surge em nossa caminhada, ainda que por minutos). São orientações que trazem uma sabedoria explícita ou subjacente e que valem nosso esforço em colocá-las na nossa prática cotidiana:

SAÚDE:

01. Beba muita água.
02. Coma mais o que nasce em árvores e plantas e menos comida produzida em fábricas.
03. Viva com os 3 E's: Energia, Entusiasmo e Empatia.
04. Arranje tempo para orar (entenda-se aqui tempo para você se conectar a sua fé, não importa qual seja).
05. Jogue mais jogos (entenda-se "por diversão" e não "por aposta").
06. Leia mais livros do que leu em 2012.
07. Sente-se em silêncio pelo menos 10 minutos por dia.
08. Durma 8 horas por dia (entenda-se: tente construir uma rotina de vida que permita a você poder ter 8 horas de repouso).
09. Faça caminhadas de 20-60 minutos por dia e, enquanto caminha, sorria.

PERSONALIDADE:

10. Não compare a sua vida à dos outros. Ninguém faz ideia de como é a caminhada dos outros.
11. Não cultive pensamentos negativos ou coisas sobre as quais não tenha controle.
12. Não se exceda. Mantenha-se nos seus limites.
13. Não se torne demasiadamente sério(a).
14. Não desperdice a sua energia preciosa em fofocas. Quem faz uso da sua energia para construir não dispõe de tempo para disseminar intrigas.
15. Sonhe mais.
16. Inveja é uma perda de tempo. Tenha tudo o de que necessita...
17. Esqueça questões do passado. Não lembre a seu(sua) parceiro(a) os seus erros do passado. Isso destruirá a sua felicidade presente...
18. A vida (essa existência física) é curta demais para odiar alguém. Não odeie.
19. Faça as pazes com o seu passado para não estragar o seu presente.
20. Ninguém comanda a sua felicidade, a não ser você.
21. Tenha a consciência de que a vida é uma escola e de que você está nela para aprender. Problemas são apenas uma parte da vida, que aparecem e se desvanecem como uma aula de álgebra, mas as lições que se aprendem perduram uma vida inteira.
22. Sorria e gargalhe mais.
23. Não necessite ganhar todas as discussões. Aceite também a discordância...

SOCIEDADE:

24. Entre mais em contato com sua família.
25. Dê algo de bom aos outros diariamente.
26. Perdoe tudo a todos.
27. Passe tempo com pessoas acima de 70 anos e abaixo de 6.
28. Tente fazer sorrir pelo menos 3 pessoas por dia.
29. Não lhe diz respeito o que os outros pensam de você.
30. O seu trabalho não tomará conta de você quando estiver doente. Os seus amigos o farão. Mantenha contato com eles.

A VIDA:

31. Faça o que é correto.
32. Desfaça-se do que não é útil, bonito ou alegre.
33. DEUS cura tudo (e não nos esqueçamos: Deus somos nós, está em cada um de nós).
34. Por muito boa ou má que a situação seja... ela mudará...
35. Não interessa a ninguém como você se senta, se levanta, se arruma ou aparece.
36. O melhor ainda está para vir.
37. Quando acordar vivo(a) pela manhã, agradeça a Deus pela graça.
38. Mantenha o seu coração sempre feliz.

Boa reflexão a todos nós e que tenhamos um 2013 vivido com muita sabedoria.
LUZ!

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

"Muito será cobrado a quem muito foi dado"

Esta máxima aparece na obra "O Evangelho Segundo o Espiritismo" em seu capítulo XVIII. 
Partindo-se para um estudo mais aprofundado da significação simbólica e espiritual dessa mensagem, verificamos que não se pode esperar o mesmo daquele que recebeu (desenvolveu) menos do que daquele que recebeu (aprimorou-se) mais. É importante adquirirmos a compreensão de que o quanto recebemos é proporcional ao esforço que fazemos para nos transformarmos. Existe uma interação de energias cósmicas no universo, impulsionadas pelo princípio de expansão e atração. Assim, se damos, se doamos de nós mesmos, se liberamos para o universo uma grande quantidade de energia despendida em esforços físicos, mentais, emocionais, morais e espirituais de autoburilamento, então podemos receber duplicadamente as energias de bênçãos, de luz, de conhecimento, de abundância, de sabedoria. Isso é da Lei do Trabalho. tudo no universo trabalha, move-se, vibra. Se não produzimos nada dentro de nós e fora de nós, se não vibramos, se não movimentamos, se não trabalhamos, não nos sentimos no direito de receber nada, porque nossa consciência nos acusa que devemos fazer por merecer, que devemos lutar para conseguir o sucesso no que quer que seja. Trazemos uma "vergonha interior", consciencial, que não nos faz considerar lícito receber abundantemente sem nada ter feito para recebermos tanto.
Com base nesta premissa, se sou um camponês, empregado de fazenda, e você é um fazendeiro, proprietário de muitos alqueires de terra, materialmente falando, mais será cobrado de você do que de mim, porque seu poder material, financeiro, é muito maior do que o meu quanto às possibilidades que cada um de nós tem no proveitoso emprego de nossas posses. Todavia, suponhamos que você, o fazendeiro, tenha sido largado pelo pai aos cuidados da mãe quando você ainda era muito pequeno; tenha raiva de sua mãe porque acredita que ela tenha sido a culpada por seu pai tê-los deixado; não tenha ouvido os bons conselhos da mãe sobre ser um homem de bem; tenha decidido se rebelar e conquistar sua independência saindo de casa o quanto antes, não importasse os meios; tenha se casado com um moça de família abastada, sendo o sogro o maior criador de gado e exportador de produtos agrícolas da região; distrate sua esposa todos os dias, humilhando-a e tenha enganado o sogro, fazendo-o adquirir grande confiança por você inicialmente, até convencê-lo a assinar um belíssimo e vantajoso contrato que nada mais era, em verdade, do que um documento que o fazia perder tudo e passar todas as propriedades para o seu nome. E suponhamos também que eu, o camponês, seja filho de família também humilde, tenha aprendido a levantar à primeira hora do despontar do sol no horizonte para trabalhar no campo; tenha aprendido que uma das coisas mais valiosas da vida é conquistar aquilo que se pode através do trabalho honesto; nutra os valores deixados pelos meus pais de companheirismo, respeito, dignidade, honestidade, franqueza, ajuda ao próximo, seja alguém mais necessitado do que eu materialmente, seja alguém que precise de uma palavra amiga; tenha me casado com uma moça de família também abastada, mas tenha preferido permanecer nas lidas do campo, sem  nunca ter por segunda intenção os benefícios materiais de que poderia desfrutar no convívio com uma família que desconhece o que é a carência; tenha decidido trabalhar para o sogro, em suas terras, visando melhorar a qualidade do que aquela terra poderia oferecer aos outros, cuidando de tudo com o amor de quem cuida do que é seu e ficando feliz em ver a prosperidade do sogro, da família de minha esposa, sabedor de estar contribuindo positivamente para o engrandecimento de todos.
Agora vem a questão. Quem possui mais riquezas? Quem recebeu mais? Quem carrega em si conquistas duradouras que levará consigo durante esta e outras existências? Veja como tudo depende do contexto, e veja o quanto tomamos decisões e fazemos julgamentos precipitados a partir de informações superficiais que recebemos. Para quaisquer efeitos, bastou dizer que um é fazendeiro e outro é camponês humilde para que nosso martelo da razão já saia batendo como um juiz no tribunal que define quem recebeu mais. Porém a sabedoria jamais bate o martelo, jamais julga ("Não julgueis para que não sejais julgados"), a sabedoria analisa, pondera, dá o tempo necessário para conhecer em profundidade as coisas, sempre disso advindo resposta satisfatória, solução certa e segura para todas as questões. 
Um é provido de grandes riquezas materiais, mas carrega em seu íntimo um abismo existencial e moral, um vazio de riquezas da essência. O outro vem de um berço pouco afortunado, mas recebe uma formação reta e traz em seu íntimo altos valores que o tornam dono de um tesouro inigualável. E perante o Pai, quem é mais rico? Quem recebeu mais? E quem, tendo recebido mais, pode ser mais cobrado? E quem cobra, afinal?
Quem cobra é Deus? Sim e não. Quem cobra, a bem da verdade, é nossa Consciência, e como tudo é manifestação de Deus, a consciência também o é. A nossa Consciência Superior, aquela que tudo sabe, que registra o passado, o presente e calcula as possibilidades futuras, e que está conectada à mente de Deus, sabe a medida do quanto podemos render em termos de trabalho, de desenvolvimento, de elevação moral. Deste modo, aos olhos do Criador, nossa riqueza é medida pelo nível mais ou menos ampliado de consciência que temos da realidade que nos circunda, e em conformidade com essa amplitude, determina se nossa condição é mais doadora ou receptora em dado momento. Isso explica por que um dado ato infracional tem um peso para quem ainda vive na consciência concreta, adormecida quanto às verdades maiores, enquanto apresenta outro peso completamente distinto para quem vive conectado à Consciência Superior. Quem é consciente do que faz, não admite certas posturas, não é verdade? Quem nos cobra somos nós mesmos.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Em Busca de Ser Feliz

Nos tempos hodiernos, vê-se uma febre de irmãos em busca da felicidade e autorrealização, acreditando que esta felicidade virá a partir de conquistas exteriores, debruçando-se em esforços incessantes para mais adquirirem, como se tais aquisições tivessem o poder de preencher as lacunas existenciais da vida. Esquecem-se, todavia, de que aquilo que de fato preenche a vida está no ser, e não no ter.
As virtudes do espírito, que são as reservas energéticas da vida, não são bens a serem adquiridos, contrariando o pensamento de muitos. Não raro, ouve-se dizer: "Eu não tenho paciência" ou "Eu não consigo perdoar fulano. Por mais que eu queira, ainda não adquiri essa virtude".
Quão importante é a máxima atribuída ao grande filósofo das almas: "Conhece-te a ti mesmo".
Em verdade, ninguém tem uma virtude ou mesmo ninguém pode adquiri-la no sentido ordinário que se atribui a esses verbos. Quem quiser ter ou adquirir não conseguirá lograr o êxito que almeja, pois buscará meios externos para apropriar-se de algo que, por natureza, já está dentro de si.
As virtudes, meus irmãos, são divinas, são da natureza imanente de Deus, e todo filho de Deus, cada um de nós, é parte integrante da Consciência Divina e, portanto, já traz latente em seu íntimo todos os atributos da Divindade.
Assim, cabe-nos cultivar as virtudes, porque já as carregamos conosco desde a Criação. No caso da paciência, todos o são, mas poucos a cultivam. Ninguém poderá adquirir paciência, pois ela não está à venda no mercado. Quem não vive a paciência precisa apenas treinar essa virtude, que sempre esteve em nós, porém, por nossas preferências e decisões, sufocamo-la a tal ponto de não mais acreditarmos que ela exista em nossa essência, daí querermos adquiri-la fora, externamente.
Conhecer-se a si mesmo é descobrir-se, é reconhecer, no âmago de nós mesmos, quais os potenciais que trazemos em nossa bagagem de experiências vividas e de que já fazemos uso e quais os potenciais que ainda não foram cultivados para que brotem, floresçam e deem frutos definitivos em nossas práticas cotidianas.
Por isso, a felicidade, meus queridos, depende de nós, somente de nós, pois já está tudo pronto para vir à tona. Queremos ser felizes, e o ser depende de como trabalhamos com o que está dentro. Nada adianta querer ter felicidade se nada ou pouco se faz para ser feliz. Precisamos, com urgência, reverter este processo de descrença em nós mesmos, de autodesvalorização, pois esse é o ponto crucial que distancia as consciências escravizadas das consciências livres.
As bênçãos de Deus sejam em cada um de nós.
Muita Paz.

Intuição recebida na noite de 14.06.2012. 

sábado, 25 de fevereiro de 2012

SIMBOLISMO DA PRECE DE CÁRITAS


“Deus, nosso Pai, que sois todo poder e bondade.”

Nesse verso, Cáritas caracteriza o Grande Arquiteto como sendo “nosso Pai”, e nisso está implícita a ideia de que o pai é o gerador, é o criador, é o que deposita a semente da vida, é o que impulsiona o sopro de vida sobre todos os seres, animados e inanimados, visíveis e invisíveis, desta dimensão e universo assim como de todos os demais planos manifestos e imanifestos da Criação. Por isso, é nosso pai, é de todos indistintamente. Ainda na sequência, a abnegada irmã Cáritas usa a forma do “vós” (2ª pessoa do plural), manifesta no verbo “sois”. Ora, a forma do “vós”, conforme se sabe, é uma maneira respeitosa de nos referirmos a alguém em um patamar hierárquico superior, mas não é só isso, “vós” expressa plural, o que quer dizer “mais de um”. Quando dirigimos nosso pensamento ao Criador compreendendo que ele é uno e, ao mesmo tempo, é plural, integramo-nos à essência desse Criador, sentimo-nos parte Dele, visto que cada um de nós, desde as formas menores que o átomo até as estruturas mais complexas de organismos vivos como constelações, galáxias, universos, tudo e todos são irradiações da luz divina, são infinitas possibilidades de a Consciência Cósmica se manifestar. Em outras palavras, não há nada fora de Deus, não a nada além de Deus; Deus é soberano e abarca a tudo que existe, pois Ele é a própria existência. Quando então elevamos nosso pensamento dirigindo-o a Deus, estamos pedindo a nós mesmos, à porção mais Superior que impregna e anima tudo que existe que essa força se direcione para nós, aproxime-se de nós, interpenetre-nos, manifeste-se através de nós. E se esse Deus é “todo poder e bondade”, cabe-nos compreender que “poder” é força, é firmeza, é energia criadora, é potencial, é virilidade, é polaridade ativa e masculina, porque o masculino, antes de se associar ao sexo, ao corpo físico de um homem, deve ser compreendido como uma polaridade de ação, de movimento, de energia, de doação, de trabalho, de autocontrole. Em polaridade oposta, mas não contrária, temos a “bondade”, que é energia potencial de polaridade feminina, passiva, de recepção (recebimento), é docilidade, é afetuosidade, é amor, é compreensão, é sensibilidade, é o lado maternal da energia. Assim, se há duas polaridades, masculina e feminina, nos atributos da divindade, Deus é a harmonia, o equilíbrio pleno entre esses atributos. Cáritas está louvando a Deus não somente como pai, mas como Pai-Mãe de todos nós, de todo o Universo. E mais, se Deus está em nós, se somos um com Deus, se as duas polaridades são atributos de Deus, todos nós, eu, você, todos somos masculino e feminino energeticamente falando, todos temos o ativo e o passivo como polaridades ao mesmo tempo opostas e complementares. É a lei do magnetismo. O mais (+) e o menos (-) completam-se um ao outro para dar manutenção ao equilíbrio de um todo, o ímã, e nós somos esse ímã de pura energia. Quanto em tão poucas palavras! Quanta sabedoria universal na humildade das palavras de Cáritas!

“Dai força àquele que passa pela provação.”

        Bem interpretado, Cáritas pede à Grande Energia Cósmica que conceda da sua polaridade masculina àquelas almas, àquele ser que esteja vivenciando a experiência do teste espiritual, sim, porque toda prova, todo desafio enfrentado, tudo que entendemos como sendo dificuldades, a que damos inadequadamente o nome de problemas, tem por objetivo último servir-nos de teste, de prova espiritual, verificando o quanto cada alma já amadureceu ou não, já se tornou adulto autônomo ou ainda não saiu das fileiras da infância espiritual. Ora, só podemos ter real certeza do nível de amadurecimento atingido mediante um desafio, um teste, uma prova, pois são mecanismos que exigem de nós uma decisão, uma postura, uma atitude. Dependendo de como reagimos e posicionamo-nos, encontra-se aí um indicador que determina se o “aluno/aprendiz” pode seguir em frente, sendo exposto a novos desafios, cada vez de mais responsabilidade, ou se carece retomar a lição, estagiar mais um tempo no mesmo ciclo, até que vença de vez todos os níveis de complexidade daquela fase, para então ser aprovado e considerado apto a outras vivências que lhe garantirão mais experiência e desenvolvimento evolutivo. E, para tanto, para nos sentirmos encorajados a enfrentar os desafios, é necessária a energia do masculino, a FORÇA, a firmeza de propósitos, o destemor, o espírito de luta que não se encolhe, que não se acomoda, que sai da zona íntima de conforto para encarar a autossuperação, que só acontece quando, diante dos desafios aparentemente externos, demonstramos uma atitude de maturidade e superioridade moral. Isso decreta termos vencido o teste, a provação.

“Dai luz àquele que procura a verdade.”

        Nesse pedido, há um conhecimento importante também a ser considerado. Sabiamente Cáritas roga que seja respeitado o livre-arbítrio acima de tudo, pois uma das leis maiores do nosso Universo é o incondicional respeito à livre escolha de cada alma. Veja como isso é sutil nas palavras de Cáritas, pois no geral não nos damos conta de que esse conhecimento está implícito na rogativa. Há almas que ainda vivem no nível da ilusão, pautam suas existências tão-somente nos valores do dia-a-dia da materialidade, contentam-se com isso, acreditam que isso, por si só, já as faz felizes, algumas inclusive chegando a acreditar que a felicidade restringe-se a todo prazer que se pode vivenciar apenas por meio dos cinco sentidos humanos. Outras almas, porém, já despertaram para a existências de valores maiores, de uma realidade mais ampla, de um mundo que está para além do senso comum, dos sentidos comuns, das experiências comuns. Essas almas sabem que toda felicidade vivida no aqui e agora, apenas por intermédio dos recursos materiais, está muito longe duma felicidade mais profunda, verdadeira, autêntica, perene, que se pode ser vivida pelas mentes que buscam a conexão com a essência, com o que realmente importa na vida de qualquer ser, a autoconsciência de sua identidade imortal e todos os atributos imanentes à condição divina de todos nós. Desse modo, respeitando a individualidade, as escolhas de cada um, só quem busca a verdade, só quem busca luz, só quem busca conhecimento, sabedoria, está apto a receber tal energia, pois torna-se aberto a isso, predisposto a receber isso. É o "pedi e obtereis, buscai e achareis, batei e a porta se vos abrirá". Por mais que o conhecimento universal esteja a disposição de todos, por mais que a Força Cósmica queira revelar-se a todas as criaturas, essa verdade, essa revelação só acontece de forma integral a quem quer, a quem busca, a quem pede, a quem procura. Não se pode impor nada a quem não quer, não busca, não procura. É da Lei do Livre-Arbítrio. De que adiante oferecer abundantemente vinho a quem quer saciar sua sede com água?

“E ponde no coração do homem a compaixão e a caridade.”

         Esse pedido destina-se a toda a humanidade, mas principalmente àquelas criaturas que ainda demonstram, em suas atitudes diárias, o coração empedernido, posturas rígidas, muito firmadas no ego, distantes, portanto, do pensamento altruístico. Note-se que o que se pede é a compaixão, e não o sentimento de pena. Quem sente pena, em verdade, ainda se coloca em uma posição de superioridade em relação ao próximo. Além do mais, a pena não ajuda em nada, não faz qualquer movimento para auxiliar no soerguimento de uma alma combalida. Já a compaixão, ao contrário, vem de 'compadecimento', o que significa 'padecer junto'. Isso não quer dizer que devemos passivamente sofrer abraçados a quem sofre. Isso significa, sim, que partilhamos daquela dor, no sentido, de entender o próximo, de se colocar em seu lugar, de pensar também sob a perspectiva de quem vive a experiência difícil e dolorosa. Tal atitude nos coloca lado a lado, faz de nós irmãos de caminhada, e não superiores e inferiores, seres distanciados uns dos outros. Quando Cáritas pede que se instaure a caridade no coração do homem, não olvidemos o fato de que, antes de mais nada, devemos ser indulgentes e caridosos para conosco mesmos. Fique claro que caridade para consigo não tem qualquer relação com desculpismo ou coitadismo, vitimismo. Trata-se de ser consciente e responsável por seus próprios atos e pensamentos. Detectado(s) o(s) ponto(s) frágil(eis) de nossa personalidade que nos conduz à queda, ao tropeço, é necessário que não adotemos o sentimento de culpa, que não abriguemos em nossa mente o constante estado de autopunição, o que leva a uma cristalização mental obsessiva, impedindo que nos flua a lucidez de que precisamos para encontrar os meios pelos quais corrigiremos os pontos que ainda não estão em equilíbrio. Se não nos perdoamos, se não nos aceitamos, se somos muito rígidos para conosco mesmos, se não nos tornamos seres capazes de doar a nós mesmos, como poderemos doar a alguém, perdoar outro irmão de caminhada, aceitar suas condições evolutivas? Como posso, em outras palavras, ser caridoso com meu próximo, se ainda trago marcas profundas de questões mal resolvidas em mim mesmo e não consigo lidar com isso? Será que sobra espaço para pensar altruisticamente quando ocupo minha mente integralmente com o que não concordo em mim, ou quando não admito ser passível de erros, ou ainda quando só penso no que quero, no que acho bom apenas para mim, não interessando o que de fato é o melhor para mim e para todos ao mesmo tempo? Ego, ego, ego... Eis o calcanhar de Aquiles de toda alma em desenvolvimento espiritual.

“Deus, dai ao viajor a estrela guia.”

          Mais uma vez, firmando a força magnética da oração, o poder do verbo transformador, Cáritas exalta em súplica o nome condensado da Grande Mente Cósmica (DEUS), e, por analogia, compara o espírito em desenvolvimento a um viajante (viajor), porquanto, em certo sentido, é o que somos, ou melhor, é o estágio em que nos encontramos. Somos viajantes rumando à reconexão e integração total com a Fonte, a Mente Divina. Somos individualidades, emanações da LUZ que se distanciaram da Fonte como os raios do sol também o fazem, a fim de vivermos a experiência, a experiência do distanciar-se da Fonte, sentir tudo que esse distanciar-se pode gerar e, com consciência integral de quem somos, fazermos o caminho de volta ao seio do Grande Sol Central. Compreendamos: se não há nada que não seja Deus, pois Deus é a essência e a causa última de tudo que existe, se nós somos criaturas que fazem parte do “corpo divino”, pois tudo está nEle, Ele está manifesto em tudo, somente sua energia, sua sabedoria infinita e eterna pode dar ao viajante que está à procura de seu destino a estrela que lhe dê norte, que seja seu guia, orientando seus passos. E eis a revelação, o segredo desvendado: nossa estrela guia nada mais é do que a INTUIÇÃO. A intuição é um nível mais elaborado do pensamento, captado diretamente do plano dimensional das ideias originais. Na mente de Deus, tudo já existe, não há nada mais a ser criado. Isso porque, se não existisse e passasse a existir através da criação, seria algo exterior à mente divina, o que não é possível visto ser Deus o Absoluto. No Absoluto, tudo já é, sempre foi e sempre será. Assim sendo, nós, na terceira dimensão, nada criamos. Tudo já está pronto na dimensão do ideal. O que fazemos, por conexão vibratória consciencial, é entrar em sintonia com o plano das ideias, com o nível dos modelos, e trazer para a terceira dimensão algo que aqui é novo, aqui é entendido como algo criado, inventado, mas que não passa de uma inspiração, de uma intuição do que já vem pronto, bastando-nos materializar tal ideia na fisicalidade. O iniciado, o homem superior, aquele que busca o constante estado de sintonia com a mente divina, fundindo-se a ela, torna-se uma antena intuitiva. A intuição, por vir da Fonte, nunca é desconexa, nunca é sem sentido, é a estrela guia que direciona com segurança os passos do espírito sinceramente devotado à ascensão, a evolução consciencial.

“Ao aflito a consolação e ao doente o repouso.”

     Nesse verso, eis novo exemplo de sabedoria. A irmã Cáritas não pede pura e simplesmente a retirada das aflições da vida de alguém. Pede a consolação a todo aflito. Não interfere no livre-arbítrio de ninguém em sua rogativa ao Alto. Aflições existem muitas em graus mais ou menos intensos de angústia, de melancolia, de sofrimento, de amargura. Porém, não fugindo à Lei Universal, algo causou a aflição de alguém. Isso não aparece do nada. As aflições surgem a partir da nossa incapacidade de lidar com equilíbrio emocional em relação a determinadas situações e pessoas. Qualquer adversidade pode chegar a nossa vida o tempo todo, e isso não pode ser eliminado de nossas existências, pois ainda é recurso eficaz, por meio do qual somos incitados à busca de soluções, e essa busca gera desacomodação, gera aquisição de novas informações e saberes, gera conhecimento de novas pessoas, e toda essa bagagem adquirida constitui nosso processo de evolução (desenvolvimento consciencial). Assim, pedir à Fonte da Vida que retire de vez todas as aflições da vida de alguém é um comprometedor ato de imaturidade espiritual, porquanto significaria o mesmo que, por analogia, pedir à direção da escola que os alunos fiquem sem professor, querendo que, ainda assim, haja aprendizagem. Cáritas pede consolação, pois há aflições extremamente difíceis, duras, que testam até o último de nossos limites e, como também é da Lei a misericórdia divina, mister se faz que o aflito receba apoio, amparo, fortalecimento interior, esclarecimento para compreender o porquê da aflição, a causa primeira que sempre reside dentro de nós mesmos. Essa ajuda verdadeiramente positiva e proativa é que representa a consolação, e não o tão comum "pobrezinho!!!", "coitadinha!!!", "ah, que pena, né?!". Esse apoio a quem precisa é, sim, um dever, uma obrigação de todos nós, irmãos em humanidade, uns para com os outros, e é a nós de quem Deus se utiliza para que aquele que mais necessita, o aflito, possa receber o amparo que lhe cabe. Nós somos a ferramenta do Alto. De igual modo, Cáritas não pede a cura definitiva a todos os males físicos daqueles que estão doentes. Novamente isso significaria infração ao livre-arbítrio, seria vilipendiar um mecanismo restaurador de consciências, que são os variados processos de enfermidades pelas quais podemos ser acometidos. As doenças geram muitas agitações em nosso ser: agitam as moléculas e células, fazendo-as atuar em desequilíbrio; agitam os órgãos, alterando sua regular funcionalidade; agitam a mente, que fica martirizada de preocupações; agitam o sistema emocional, que passa por um turbulento furacão de reações íntimas; agitam os centros de força (chakras) e corpos espirituais, bloqueando o livre fluxo de energia vital. Um ponto reflete diretamente em todos os outros. E, por incrível que nos pareça, tudo isso é instrumento de lapidação e despertar de nossas almas para a maturidade e autonomia espiritual. Não podendo extirpar o que é de grande utilidade, podemos sim pedir o repouso, o relaxar, o afrouxar de tensões, de medos, de culpas, de angústias, podemos pedir a descristalização de nossas mentes, fazendo-nos colocar fora do problema, a fim de que consigamos percebê-lo em seu todo, em seu conjunto, o que nos dará mais lucidez para melhor atuação, para decisões mais coerentes, acertadas e menos passionais e parciais. Essa condição de lucidez é um repouso, um refresco, um refrigério para nossas almas.

“Pai, dai ao culpado o arrependimento.”

Neste ponto, há uma séria consideração a ser feita. Todo aquele que se sente culpado por um "erro" cometido não consegue estabelecer o autoperdão, aliás, não consegue nem mesmo admitir que precisa se perdoar. Se alguém não se perdoa, como poderá aceitar o perdão de quem foi agredido ou prejudicado? Caso ainda mais grave é o da pessoa que não reconhece ter agredido ou prejudicado a outrem, pois vê-se sempre como o centro da razão, o único correto. Assim, não sente culpa, porque "não fez nada de mais", foi "perfeita" em suas ações, portanto não precisa se arrepender de nada e, em não se arrependendo, não há o que reparar, não precisa rever nada em suas atitudes. Essa é uma das mazelas maiores da humanidade: o ego, a hipervalorização do "eu". Cáritas não culpa ninguém nem diz que Deus considera alguém culpado. Cáritas apenas pede o arrependimento ao culpado, ou seja, nossa irmã pede que Deus conceda à consciência dos irmãos que carregam dentro de si a cobrança da culpa o sublime conforto do arrependimento, primeiro grande passo para a renovação de atitudes. Para entendermos didaticamente, a mecânica universal segue, mais ou menos, esta linha:
1. Deus não está fora, está dentro de nós. Nós somos uma fagulha de Sua consciência infinita. Mas não importa o tamanho, importa que somos. Somos uma parte de Deus. Portanto, se Deus nos culpasse de algo, estaria culpando a si mesmo, ao menos a uma parte dEle.
2. Deus é Amor Justo. Justiça e Amor compõem o seu cetro de regência cósmica. Assim são governados os mundos. Se Deus nos culpasse, nós, que somos parte dEle, criação Sua, seríamos o atestado de que Deus não é soberano, não é Absoluto, é imperfeito, e isso geraria, ou confirmaria, a teoria do caos, a própria consciência criadora é caótica, portanto trabalharia por sua própria autodestruição. É ÓBVIO QUE NÃO É ASSIM!!! ISSO SERIA ABSURDO.
3. Ninguém é, por natureza, culpado de nada. NÃO EXISTE CULPA!!!!! Repito: NÃO EXISTE CULPA!!! Isso foi construído no decorrer da história da humanidade para que nos mantenhamos cristalizados no estado de remorso e autopunição, não tendo olhar para novos horizontes e, consequentemente, mantendo-nos aprisionados ao ciclo das encarnações na 3ª dimensão, também chamado Roda de Samsara (origem do sânscrito). Meus irmãos, o que existe é RESPONSABILIDADE, e não CULPA. Somos o tempo inteiro responsáveis, sim, sobre tudo o que fazemos, dizemos, pensamos... O espírito tem de amadurecer, e com o amadurecimento vem a responsabilidade. Somos responsabilizados por como conduzimos nossa existência e pelo que cultivamos em nossas mentes diariamente, mas não somos culpados, nunca, jamais, isso é contrário às leis de Deus.
4. Evidentemente, Cáritas conhece essa verdade, mas sua súplica não é pelos que conhecem, mas pelos que desconhecem, pelos "ignorantes" (no verdadeiro sentido da expressão), pelos desvalidos, pelos que ainda se martirizam na culpa, os que se sentem culpados.
5. Finalmente, para quem se sente culpado, não há outro caminho senão caminhar até alcançar, em sua consciência, o estado de arrependimento, não para se autopunir. Isso não é se arrepender. Arrepender-se é encarar (olhar face a face) o "erro, a falha, o prejuízo" cometido contra si ou contra outrem, reconhecendo a necessidade de mudar o padrão de comportamento, começando pela reparação ao "mal" causado.
6. Coloco estas palavras "erro", "falha", "prejuízo", "mal" sempre entre aspas, porque em verdade aqui também há uma grande distorção histórica quanto a esses conceitos. A carga de significação dessas palavras leva sempre a um juízo, a uma postura tachativa, unilateral. Não existem agressor e vítima no sentido absoluto que se lhes atribui dentro da mecânica universal. Existem responsáveis, ou ainda, corresponsáveis, e tudo precisa chegar a um bom termo, ao equilíbrio, ao Caminho do Meio de Buda, ao Amor Justo.


“Ao espírito a verdade.”

Agora Cáritas pede que Deus dê ao espírito a verdade. Sem sombra de dúvida, uma rogativa de profunda significação. Na prece, ela já havia pedida que Deus desse a luz a todo aquele que procura a verdade, e aqui novamente a verdade em jogo. O que procura a verdade é aquele que ainda vive na matéria, o que vive na escuridão e, como quem está vendado, sai à cata de algo que sente ter necessidade de encontrar, mas não sabe direito o que é, como é, onde está nem quanto tempo levará para achar. Entenda-se bem, quem vive na matéria não é só os seres encarnados, neste planeta ou em outros; não, quem vive na matéria é quem tem sua mente vibrando predominantemente nas faixas de alta densidade, é quem pensa materialmente, é quem sente todas as paixões materiais: medo, culpa, angústia, dúvida, ódio, egoísmo, inveja, ciúme e por aí vai... Não nos preocupemos, podemos tranquilamente desencarnar e ainda permanecermos sumamente materiais, materializados, solidificados nos paradigmas desta 3ª dimensão. Então, esse é o que procura a verdade, e fica como uma barata tonta, mas tem muita dificuldade de encontrá-la, e no mais das vezes não a encontra. Por isso, Cáritas, banhada em inspiração e sabedoria, pede luz a quem procura. Luz, espiritualmente falando, é informação, conhecimento, mas não qualquer conhecimento. Trata-se de conhecimento espiritual universal. Luz é o conhecimento iniciático, é a chave dos mistérios da vida e da morte, é a compreensão da engrenagem cósmica e de como estamos inseridos nessa engrenagem, qual é o nosso verdadeiro papel. Já ao espírito Cáritas pede que Deus conceda a verdade. Sim, Deus só pode conceder a Verdade ao Espírito, ao nível de nossa consciência que está acima e além de toda matéria tal qual a concebemos atualmente. A Verdade é a dimensão do Espírito, e o Espírito é nossa porção divina, é a Centelha que emana da Grande Fonte, é o sopro de Deus. Quando nossas mentes na condição alma, perispírito, corpo mental concreto conseguem fundir-se com o Eu Superior, quando conseguem alcançar a experiência mística, transcendental e individual de fusão com esse Eu, com o Cristo Interno, então têm acesso às grandes leis, passam a conhecer a única grande Verdade que reside muito além de nossa dimensão terrena, embora esteja interpenetrada inclusive nessa dimensão. É o que todos devemos buscar: a Verdade. Dentro, não fora. Em nossas consciências, atitudes, desejos, e não nas ciências que ditam inúmeras regras que frequentemente se contradizem, pois só analisam o relativo, não tendo acesso ao Absoluto. Nós somos o templo dos grandes mistérios. Conhece-te a ti mesmo e desvendarás a Criação.

“À criança o guia e ao órfão o pai.”

Todo espírito que ainda se debate no enfrentamento de suas próprias paixões é considerado espiritualmente uma criança. A maciça maioria da humanidade é extremamente apegada ao aqui e ao agora. É birrenta. Tem de ser "como eu quero, quando eu quero, do jeito que eu quero, com quem eu quero, porque eu quero". O "eu" ainda fala muito alto, dando pouquíssimo espaço ao "nós" em termos globais. Sim, nossa humanidade está se regenerando, estamos rumando à maturidade espiritual e consciencial, uns mais celeremente que os outros, mas, no grande grupo, o processo ainda é bem lento. Então somos teimosos e birrentos, no coletivo e individualmente. Ora, teimosia, birra, bateção de pé, "não quero", "não posso", "não vou", "não estou a fim" é coisa de criança, não é verdade? É postura imatura. Portanto, somos sim crianças espirituais. Sempre há os mais madurinhos, os adolescentes do grupo, porque a espiritualidade, nossos "pais", precisa encontrar suporte na Terra para conduzir a filharada, e se todo mundo for indistintamente infantil, não há quem faça o barco navegar, não é mesmo? Então é isso. A criança precisa de guia, de quem dê norte, de quem direcione os passos, o que não significa em absoluto dar resposta pronta para tudo, dar mastigado. Lá vem novamente a nossa criança egoica querendo que tudo seja resolvido sem esforço... Deixa que o guia se vire! Ele faz o meu trabalho! É guia mesmo, então ele é quem sabe, eu só sigo atrás sem nem raciocinar... Preguiça é coisa de criança... Onde fica o mérito da conquista, o mérito da descoberta por conta própria, o prazer de dizer "eu consegui"? Com ajuda, mas consegui. Não ganhei tudo de mão-beijada. Vejam como somos imaturos em sua maioria ainda. Somos duplamente insatisfeitos: se vem pronto, que graça tem? Já está tudo feito! Se só vem uma leve pista, nossa, que difícil, não dá para facilitar a vida? Birra, criancice espiritual. Os mentores, guias espirituais, anjos guardiões, amparadores, ou qualquer que seja o nome que queiramos lhes atribuir são justamente esse guia a que se refere Cáritas em sua prece. Quem pede orientação, norte ao seu guia diariamente? Ele vem para trabalhar, ele é delegado por Deus para nos auxiliar, mas o jogamos de escanteio e pouquíssimo se filtra do que ele(s) nos orienta(m). A maioria ignora sua existência, e o bloqueio psíquico se torna quase que total. A segunda parte do verso também é importante. Ser órfão de pai aqui como encarnados na Terra não é tarefa fácil, mas como somos adaptáveis, flexíveis, maleáveis de acordo com o contexto, já aprendemos a nos "virar", ainda que em condições adversas. Mas ser órfão de pai espiritualmente falando é a única coisa que não poderia nos acontecer, sob pena de comprometimento de nossa felicidade e de nossa própria existência. O nosso pai espiritual é a consciência superior que habita dentro de nós e que nos convoca ao trabalho pelo nosso progresso e por desvendarmos a essência desse pai. Se nos desassociamos constantemente dessa voz interior, dessa intuição maior que rege a nossa caminhada, se nos desassociamos do nosso Eu, do Self, da Centelha Divina que somos, isso é o mesmo que mergulhar de cabeça em escuridão, em trevas, em desconexão com nosso prumo. É como bater com toda força com uma marreta no próprio dedo e querer que não doa, que nada aconteça de anormal. Se nos posicionamos como órfãos do Pai Divino, Cáritas roga que, de algum modo, o órfão possa se reconectar ao Pai, e este, por misericórdia, possa novamente acender a luz da orientação para quem tastaveia a esmo na penumbra da estrada.  

“Senhor, que a Vossa bondade se estenda sobre tudo o que criastes.”

A irmã Caridade roga à Essência da Vida que o seu lado feminino, a sua polaridade ligada ao aspecto das qualidades como a sensibilidade, o materno, a amorosidade, a docilidade, a compreensão, a bondade, enfim, estenda-se sobre toda a Criação. Cáritas não pede apenas pelas pessoas, pelos seres humanos, ela pede a bondade sobre tudo o que Deus criou, assim, faz-se referência a todas as formas de manifestação da vida, refere-se aos reinos elemental, mineral, vegetal, animal, hominal, angelical, arcangelical, celestial, búdico, monádico; faz-se referência aos átomos, às moléculas, às células, às microestruturas cromossômicas; incluem-se as leis da Física, da Química, da Biologia, da Matemática, pois todas se expressam na regência cotidiana da natureza, sendo parte integrante da criação e da vida;  faz-se alusão ao planeta Terra, aos outros milhões de planetas, galáxias, universos, conhecidos e desconhecidos da ciência humana. Tudo isso é vida. Tudo é criação. Tudo é forma manifesta da vontade da Consciência que Tudo É. O pedido de Cáritas é universal, pois não há quem não necessite da bondade, da polaridade feminina da vida para alcançar o equilíbrio, a autoiluminação.

“Piedade, Senhor, para aqueles que vos não conhecem.”

Retornando-se à etimologia das palavras, piedade vem de pietas que, em latim, significava "afeição, dever, piedade", e pietas é palavra derivada de pius, também latina, a qual relacionava-se a quem era "bondoso, devoto, cumpridor de deveres". O interessante é que, neste verso, temos uma via de mão dupla. Cáritas pede a bondade, a benevolência de Deus para com todos os que não penetraram em Sua essência, não entendem o sentido de Deus como regente dos universos, não conhecem a si mesmos, renegando a divindade que todos somos. Como somos todos Um com Deus, a piedade também é de nós para conosco mesmos e é ainda o caminho para se chegar à fusão entre as consciências menores e a Macroconsciência. Se pius é aquele que é bondoso, que é devoto, que cumpre com seus deveres, piedoso é todo o que adquire a compreensão de qual é o seu real papel perante a vida, assumindo a responsabilidade pelos seus próprios atos, pensamentos, palavras, ocupando-se em disseminar o equilíbrio, a alegria entre todos, o espírito de união, a bondade. Isso é cumprir como nossos deveres enquanto filhos de Deus, porque somos emanação dEle. Piedade não é ter pena, é ser justo, é fazer o que precisa ser feito. Todo aquele que está distante, dissociado de Deus, está distante, dissociado de si mesmo e precisa da corrigenda, precisa do burilamento, da lapidação. Não basta sermos diamantes e não resplandecermos o brilho de um diamante autêntico. Temos de ser e aparentar. Ser por dentro e fazer com que isso se revele a todos por fora. Se Deus tiver piedade de nós, isso significa que nos lapidará de todas as formas necessárias para que alcancemos o esplendor de nosso brilho. E aqueles que já se aproximaram mais de Deus, que estão no caminho mais direto de fusão entre consciências micro e macro, não necessitarão tanto da piedade para consigo, mas terão de, invariavelmente, ser piedosos para com o próximo, compreendendo as dificuldades evolutivas de cada um, porém sem serem omissos, sem deixarem de colaborar com o Pai, o Garimpeiro de Almas, na lapidação de seus coirmãos.

“E esperança àqueles que sofrem.”

Note-se que a prece inteira é devotada aos desvalidos do mundo, e o objetivo é oferecer a paz de espírito, mas oferecendo os recursos que levem esses mesmos desvalidos a reerguerem-se perante si mesmos. Todo aquele que sofre, todo aquele que vive os martírios de sua consciência ante as adversidades que a vida nos impõe para aprendizado e crescimento necessita de um combustível, de uma mola propulsora que lhe permita ver a luz no fim do túnel, que lhe possibilite um refrigério interior, retirando de suas vistas o peso da sobrecarga emocional que o sofrimento gera, de modo que possa restaurar sua conexão interior com a luz e a verdade, encontrando a melhor saída para o que passa ou sofre. Esse refrigério para alma, essa fonte cristalina que nos alimenta de força e coragem é a esperança. Esperança vem de "esperar", porém não no sentido comum que se atribui à palavra como "aguardar", e sim, no sentido proativo, ter profunda confiança de que as coisas podem melhorar, de que nem tudo está perdido, de que o sofrimento deve ser encarado antes como uma ferramenta de autoanálise do que como um fardo pesado demais para se suportar. Para que se tenha verdadeiramente esperança em Deus e na Vida, não nos olvidemos de que precisamos ter esperança em nós mesmos, acreditar em nosso potencial, sair das zonas de conforto, arregaçar as mangas e trabalhar dia após dia pelo nosso progresso e despertar. Deus não fará isso POR nós. Deus fará isso EM nós, mas se nós dermos o primeiro passo, porque nós somos Um com Deus. É a ação e reação, o buscai e achareis.

“Que a Vossa bondade permita aos espíritos consoladores”

Cáritas pede ao lado Mãe de Deus, ao feminino, à bondade que a Consciência Cósmica autorize a intercessão proativa dos bons espíritos, dos mensageiros da luz, dos propagadores do amor, do bem, da verdade e da justiça que levem onde houver necessidade, carência, escuridão, sombra interior as energias salutares e consoladoras. Todos, antes de reencarnarmos na dimensão da fisicalidade, conforme programação prévia, passamos a ser tutelados por almas que já alcançaram condições melhores do que a nossa em adiantamento moral e intelectual, podendo assumir a condição de condutores, de amparadores, mentores, guias, anjos guardiões ou como mais se queira falar. É uma equipe que nos dá essa assessoria. Há um condutor individual, há os condutores familiares, os que comandam os diferentes ramos em que cada um de nós atua, que seriam como especialistas técnicos. Todos são ou podem ser consoladores. Precisamos não malbaratar a sua existência e permitir, através do nosso pensar, sentir, agir e falar, que eles se aproximem mais de nós, ou melhor, nós é que precisamos nos aproximar deles, pois eles são outorgados para estarem conosco nos auxiliando. Nós é que geramos o distanciamento vibratório-mental deles por alimentarmos outras faixas de corrente eletromagnética inferior quando densificamos nossos pensamentos e ações. É fácil transferir a responsabilidade (não culpa) quando dizemos que fomos abandonados por nosso anjo guardião, e ele ali do lado, não sabendo mais o que fazer para que repensemos nossos atos, paremos de passar o que é exclusivamente nosso para os outros e adotemos uma postura de humildade, permitindo a reconexão entre o pensamento nosso e o do guia.

“Derramarem por toda parte a paz, a esperança e a fé.”

Se há paz, há a tranquilidade para que a conexão entre o ego e o Self se estabeleça, e este possa reger aquele.
Se há esperança, há sempre um horizonte, a cabeça está erguida, não há espaço para o esmorecimento, há força para lutar e vencer-se a si mesmo.
Se há fé, há confiança absoluta, há entrega, há o desejo de servir na certeza inabalável de que esse serviço será conduzido e orientado por mentes superiores que gerarão o bem a todos, indistintamente.
Cáritas fala em "derramar" como alusão à energia emanada dos planos superiores que penetra, de cima para baixo, como um bálsamo, o nosso centro da coroa, o centro energético chamado coronário. A energia-luz interpenetra os corpos superiores através de chakras ou centros energéticos ainda mais sutis, até alcançar o coronário, que propaga esse influxo magnético por todo o nosso corpo físico ou somático. É como se recebêssemos a água do chuveiro que vai penetrando, de cima para baixo, todos os poros, lavando e retirando todas as impurezas e tensões.

“Deus, um raio, uma centelha do Vosso amor pode abrasar a Terra.”

DEUS é Amor, Amor é Luz Espiritual e Luz Espiritual é Fogo, é chama ardente, é o Cristo abrasador, flamejante. Tudo que vem de Deus é Amor, e esse amor vem na forma de Luz incandescente, porque o amor de Deus é transformador, é regenerador, é transmutador de padrões antigos para uma visão renovada da vida. O amor de Deus é, ao mesmo tempo, pacífico, calmo e também dinâmico. Respeita o ciclo de cada um, o tempo e o espaço, mas não para nunca, transforma sempre, suavemente, às vezes quase que imperceptivelmente, mas não cessa o movimento, não se cansa, não desiste, não desanima, não esmorece sob qualquer hipótese. O Amor de Deus é a certeza absoluta, não há espaço para a dúvida, para a insegurança. Por isso, esse fogo, essa centelha, essa chama sagrada pode abrasar a Terra. Ela é capaz de regenerar o céu e a Terra, é capaz de manifestar novos universos, é capaz de regenerar os universos existentes. Cáritas reconhece essa força, esse poder, e aqui faz reverência à polaridade masculina da consciência manifesta de Deus. Deus é a mãe, a concepção, é quem gesta o cosmo, é a docilidade, a bondade, o zelo, a sensibilidade, mas Deus também é o pai, é o que fecunda, o que deposita a semente da vida, o que expira o sopro da consciência, é o fogo, é o dinamismo, o movimento, a força, o poder, a energia avassaladora, o transformador, o realizador, e Deus ainda é o produto desta química universal, é o filho, é o fruto, é a própria Criação, é, enfim, a Trindade que está em tudo.

“Deixai-nos beber nas fontes dessa bondade fecunda e infinita.”

Ora, só bebe em uma fonte que está com sede. Quem está com sede é porque não está saciado, falta algo, está carente de algo. Nós, seres da Criação, enquanto permanecemos mergulhados nas preocupações do dia-a-dia, buscando a subsistência a todo custo, esquecemo-nos de dar tempo a nós mesmos para o reencontro com a essência, damos pouquíssimo ou nenhum espaço para a inspiração, para a intuição, para o nosso canal interno de comunicação direta com a Mente Criadora, querendo alucinadamente achar respostas por conta própria, cegos em meio a nossa insegurança, ao medo de faltar, ao medo de perder, de tirarem o que é nosso, vivendo num constado estado mental patológico de quanto mais se tem, mais se quer, e maior ainda é a sensação de vazio, de falta, de incompletude. Nosso psiquismo já anda tamanhamente adoecido que podemos estar bebendo na fonte, tomando banho na fonte, em total abundância, e, simultaneamente, nossa mente não para de maquinar uma forma de conseguirmos mais, de fazer perdurar ao máximo esse esbaldar-se porque pode faltar, porque podemos perder, porque daqui a pouco podemos já não ter mais, e a mente fica tão absorta nessa ideia cristalizada que sequer curtimos o momento, passa batido, mal sentimos o prazer do que estamos vivenciando, porque a mente já está lá na frente, quer mais, precisa de mais... Vai que falta, né?... Meus irmãos, o que é isso? Aonde vamos parar? Isso sim é doença total. É uma síndrome insana, é um profundo desalinho de nossas almas em relação aos padrões cósmicos de abundância. Deus não deixa faltar nunca. Quanto mais Ele dá, tanto mais há o que oferecer. Ele é Fonte Inesgotável. Se a bondade de Deus é "fecunda e infinita", isso quer dizer que é como a terra fértil, também fecunda. Tudo que se planta dá. Não há escassez, não há falta. E como é infinita, é inesgotável. Se ocorrem as faltas em nossa vida, é porque nos relacionamos inadequadamente com os recursos da Providência. Já começamos com um engano gigantesco quando acreditamos ser proprietários de alguma coisa nesse mundo. Isso gera os padrões de perda. Se eu tenho, se algo me pertence, então estou suscetível a perdê-lo a qualquer tempo sim, óbvio. Só que o segredo da vida está nisso. Nós não temos, nós somos, eis a diferença fundamental. Não posso perder o que sou. Se eu sou, então eu sou e ponto final. Mas se tenho, isso que tenho não está em  mim, está fora, então pode ser retirado de mim a todo instante. Deus lapida-nos para que trabalhemos dentro da consciência do SER, e não do TER. Não somos proprietários nem do corpo de que estamos revestidos para essa experiência encarnatória. Tudo é um empréstimo, tudo está a nossa disposição para que façamos bom uso, transitemos livremente, porém sem apego. O apego nos faz ficar presos a algo, e somos espíritos livres, ou deveríamos ser livres. Enquanto não nos reconectarmos à ideia de que podemos transitar em todos os setores, viver infinitas experiências, mas sem nos agregarmos a nada, não conseguiremos nunca viver em liberdade. Os filhos não são nossos, os maridos e as esposas não são nossas, a casa não é nossa, o carro não é nosso, o emprego não é nosso. Todas as pessoas, os seres, as situações transitam conosco pelo mundo das experiências para aprendizado, amadurecimento e crescimento, mas NÃO SÃO PROPRIEDADE. Óbvio, se agimos como se tudo fosse nosso, criamos essa expectativa, vivemos conforme a realidade criado por nossas mentes, e a frustração, a tristeza, o desespero são garantidos, porque o universo não vai mudar suas leis em virtude de nossas crenças e da realidade ilusória que decidimos criar para nós mesmos. Deus é Amor Justo, e no Amor Justo não há espaço para a nossa teimosia se alastrar, ainda mais que o fruto dessa teimosia não é outro senão o desequilíbrio. Quando adotarmos a atitude de beber da fonte fecunda e infinita da bondade de Deus, estaremos, em outras palavras, despertos para essa realidade, assumindo novas posturas, compatíveis com as leis de ordem e harmonia cósmicas. Na realidade, isso tudo só se torna óbvio quando conseguimos fazer toda essa análise dentro de nós, do contrário, nada parece tão óbvio. A vida é simples até que a entendamos; antes disso, tudo é muito confuso e complexo, criando a ilusão de que o caos é a ordem da vida.

“E todas as lágrimas secarão.”

A partir do instante em que compreendemos que nada é nosso, que nós apenas SOMOS e que o restante todo é empréstimo divino para que mergulhemos na experiência, não criamos mais expectativas, não criamos ilusões, não acalentamos frustrações, não nos decepcionamos, não sentimos culpa nem medo, não sentimos inveja ou ciúme (coisas bem diferentes, embora muitos as confundam), não fazemos cobranças, não prejulgamos, paramos de vez de detonar com todas as nossas possibilidades de sermos felizes, porque extirpamos a raiz da infelicidade, arrancamos a máscara do personagem, para ver o puro e simples ator, o ser como ele é: nós, cada um de nós. Se tudo isso desaparece, o sofrimento deixa de ter o valor de sofrimento, perde o significado que lhe atribuímos, passa a ser qualquer outra coisa, menos sofrimento tal qual o concebemos. A visão de mundo transforma-se totalmente, deixando de existirem os motivos pelos quais nos banhamos em lágrimas corriqueiramente. Esse é o espírito já mais maduro, que venceu a sua infância mental e que se mostra apto a novos desafios e descobertas. Que fique claro que nada disso é para ser encarado como teoria filosófica; muito antes pelo contrário, isso tudo precisa ser encarado como PRÁTICA filosófica, como atitude de quem deseja viver e agir com sabedoria. Vamos à luta!


“E todas as dores acalmar-se-ão.”

Se ás lágrimas secarão e deixarão de correr, como não aliviariam sensivelmente as dores? Não são as dores que mais nos fazem sofrer e viver num vale de lágrimas? Mas a dor também é transmutada quando entendemos a razão de sua existência. A dor também deixa de ser dor. Quando adotamos as medidas internas necessárias para sairmos do sistema e observarmo-lo de fora, analisando-o com frieza e imparcialidade, tudo que é deixa de ser. Essa é a chave dos grandes mistérios. Essa é a aproximação à Consciência Cósmica e a nossa reconciliação com a Divindade, com a Força Suprema.

“Um só coração, um só pensamento subirá até Vós.”

Aqui outra simbologia da Prece de Cáritas.  Coração não sobe, pura alegoria, pura figura de linguagem. O coração é a representação, por convenção, de tudo que está ligado aos sentimentos, àquilo que brota das entranhas de nossas almas. E o pensamento é a razão, o raciocínio, o intelecto. Assim, se nos despojamos de todos os padrões, de todos os paradigmas que aprisionam e nublam a visão que temos da realidade, podemos obter a unificação total entre nossos sentimentos e nosso intelecto, nossa razão. Deixam de existir as barreiras que separam esses dois aspectos do nosso ser, os quais são uma coisa só. Nossos sentimentos e nossa razão podem, enfim, elevar-se vibratoriamente, expandir-se, entrando em frequências muito mais sutis e puras que nos conectam à mente do Todo, para vivermos e compreendermos em maior plenitude as entranhas da Vida e a própria razão de nossas existências e do processo evolutivo ascensional. Isso é subir até Deus, o Pai-Mãe do Cosmo.

“Como um grito de reconhecimento e de amor.”

Quando esse momento de unificação começa a se estabelecer concretamente, quando sentimos, quando experienciamos em nós, dando-nos a certeza de que É, a sensação é de paz, é de felicidade, é de libertação, é de reencontro conosco mesmos e é tão soberano, tão extasiante, tão avassalador que nossas consciências imortais gritam, vibram intensamente, mostrando o reconhecimento por toda a sabedoria desse intrincado processo de descoberta, cuja vitória propicia um prazer inigualável, é o êxtase do amor incondicional universal.

“Como Moisés sobre a montanha.”

Queridos irmãos, notem que simbolismo interessantíssimo há por trás deste verso da Prece de Cáritas. Gente, claro que toda essa produção que venho fazendo conta com bagagem minha, de reflexões, de leituras, de estudos e análises, mas não sejamos ingênuos. O Marcelo, em sã consciência comum do dia-a-dia, não conseguiria traçar determinados paralelos, fazer certas analogias e alusões a aspectos que aparentemente não teriam conexão direta alguma, se não fosse a assessoria, inspiração, intuição, orientação de Seres amoráveis de luz que me têm assistido ao longo dessa caminhada terrena. A própria iniciativa de fazer essa releitura interpretativa das profundas mensagens e conhecimentos subjacentes a essa Prece não é obra minha, e sim orientação das Hierarquias do Bem. Louvado seja o nosso Senhor Jesus Cristo. Quando estava olhando para esse verso, a fim de construir sua interpretação, parecia haver um vazio, um branco, e a leitura ficava superficial, literal, tal qual o que está escrito. Mas eis que de súbito irrompe todo um quadro de significação mais profunda sobre nossa posição na vida e nosso psiquismo em expansão, algo que dificilmente se poderia interpretar a uma primeira leitura, e mesmo depois de várias. Só eu sei quantas vezes já proferi essa Prece em meu dia-a-dia, há quantos anos, e nunca havia feito associação parecida. Eis o que representa a conexão com a Fonte, com os mensageiros do amor e da sabedoria. Aqui não se trata tão apenas da figura do homem Moisés sobre uma montanha, remontando às cenas do período bíblico do Velho Testamento. Moisés representa aqui o homem, o ser humano elevado acima do senso comum, aquele que olha o sistema de fora, que não está no pé da montanha achando dificílima e cansativa a subida, quase inviável, intransponível. Aqui Moisés representa o nosso psiquismo, a nossa mente elevada acima da montanha dos problemas, das emoções aprisionantes, dos traumas, dos medos, das culpas, dos destemperos a que nos entregamos nas práticas cotidianas. Moisés está sobre a montanha, vendo tudo que está abaixo, à frente, atrás, à direita e à esquerda e mais além no horizonte, e acima, vindo do alto. Moisés não está enterrado nas aflições, submerso; olha o contexto com parcimônia, com imparcialidade em certo sentido, sua consciência está livre, acima, meditativa, sobrepõe-se ao caos aparente da vida, para entender os seus mecanismos intrínsecos, implícitos, subliminares. E Cáritas diz: "Como Moisés sobre a montanha", ou seja, usa a conjunção "como" em sua função comparativa, significa "assim como", "do mesmo modo que", "à semelhança de". Então, a ideia é de que façamos tal qual Moisés o fez, a ideia é de que apliquemos na prática tudo sobre o que estamos refletindo e analisando até aqui, adquirindo o nível consciencial, assim como Moisés, de estar acima do senso comum, acima dos problemas, acima das tribulações, dando uma parada geral momentânea, dando o tempo necessário para respirarmos e, com lucidez e clareza, observando de cima e de fora, encontrarmos os meios de transformação da nossa realidade através da conexão e alinhamento com a mente harmonizada e ordenada da Consciência Criadora, que está dentro de nós, voltamos a dizer. Só que não há como fazer isso sem  parar, sem dar-se o tempo para isso, sem sair do sistema para vê-lo sob uma perspectiva mais ampla e menos caótica. Eis a razão-matriz das palavras da irmã Caridade.

“Nós Vos esperamos de braços abertos.”

Quando cruzamos os braços, ou o fazemos para colocar em repouso tais membros, ou o fazemos por instinto de proteção. Cruzar os braços também representa fechar-se, colocar-se em guarda, a fim de que não adentrem nosso campo de energia,  nossa intimidade. É um recurso de defesa, pois cruzamos as polaridades positiva e negativa de que somos constituídos, sendo um dos lados o positivo (normalmente o direito) e o outro o negativo (normalmente o esquerdo). É como o magneto, o ímã. Se fazemos o cruzamento, geramos a obstrução do fluxo eletromagnético que circula através do nosso corpo, pelas correntes centrípeta e centrífuga. Se o cruzamento for intencional para esse fim, a obstrução é ainda maior, pois emitimos o comando mental, e a mente é tudo. Porém, se isso é fato, o oposto a isso também o é. Quando abrimos os braços, desarmamo-nos, colocamo-nos em estado de entrega, tornamo-nos receptivos, pois abrimos espaço para receber, para fluir, para deixar as correntes agirem por todo o nosso ser. Os braços abertos representam o louvor, a confiança no outro e a autoconfiança, o destemor. Os braços abertos também simbolizam o "mãos à obra", vamos trabalhar. O centro cardíaco fica à mostra, tanto para doar o que tem dentro de si como para receber o que vem de fora. Assim, se Moisés esperava o Senhor de braços abertos sobre a montanha, isso quer dizer que se tornava receptivo para deixar-se penetrar da LUZ emanada da Consciência Superior, possibilitando total expansão de consciência, elevação do padrão vibratório, abertura dos canais de percepção psíquicos (a sensitividade, a paranormalidade, a mediunidade), oportunizando a si mesmo a condição de servir de instrumento da Vontade do Alto. É o símbolo da experiência mística mais profunda, pessoal, intransferível, impossível de ser pormenorizadamente descrita em palavras, pois não existem parâmetros suficientes na materialidade da 3ª dimensão em que nos encontramos para que tudo isso possa ser racionalmente explicado. Mas não nos esqueçamos: esse é o caminho de cada um de nós, essa é a proposta da existência. Alcançar a fusão com o Pai-Mãe da vida.

“Ó, Poder! Ó, Bondade! Ó, Beleza! Ó, Perfeição!”

Esse é um verso tipicamente marcado pelo louvor, pela reverência à Divindade, é um curvar-se diante de seus atributos magnânimos. Reconhecendo tal magnitude, não há por que não abrir os braços, não há por que não entregar-se inteiramente, pois a Consciência Divina aqui é reconhecida como tudo o de que precisamos, tudo o que queremos e tudo o que somos em nossa essência, enquanto filhos de Deus. Vemos aqui expressas quatro virtudes, ou melhor, três, pois há uma que é a união das demais. Mais uma vez, há o reconhecimento de Deus como sendo o Pai-Mãe da vida. Poder é atributo marcadamente de polaridade masculina, enquanto que a bondade e a beleza estão predominantemente relacionadas à polaridade feminina de nosso universo bipolarizado. Três atributos, uma trindade. O poder é força, e a força só é canalizada construtivamente quando regida pela bondade, e o produto disso é algo belo. O que ocorre na união dessas qualidades é o mesmo que a força de um homem direcionada pela brandura e afago de uma mulher, o que confere a temperança a essa força, gerando bons frutos, aqui simbolizado pelo belo. Isso é um ato de perfeição, é um ciclo completo em plena harmonia, isso é, em outras palavras, a criação de Deus. Vale lembrar que todos nós somos um templo, o Templo de Salomão, e que esses atributos-polaridades são correntes vitais de força que habitam a nossa intimidade. Não se trata de pensar que o homem só se completa na mulher vice-versa. Os atributos são da alma, e a alma só pode completar-se nela mesma, devendo encontrar em si todos os recursos para a plenitude de sua felicidade.

“E queremos fazer-nos merecedores de Vossa misericórdia.”



Há, sem sombra de dúvida, uma sensível diferença entre ser merecedor e sentir-se merecedor. Como somos todos filhos do Criador, não há quem não seja, em princípio, merecedor. No entanto, para que nos sintamos plenos, não nos basta saber que somos merecedores por natureza. Precisamos sentir que esse mérito é fruto de uma conquista, e só se conquista algo a partir do esforço e do trabalho. Cáritas reconhece essa necessidade quando profere "E queremos fazer-nos merecedores". A misericórdia é a compaixão, é o dividir o fardo. E esse é o amor de Deus. Fazer-se merecedor é, em outras palavras, conseguir subir o padrão vibratório de nossas mentes, emoções, sentimentos, sintonizando com a frequência da Sabedoria Divina, a qual passa, a partir de então, pelo canal da intuição que todos temos, a guiar nossos passos por caminhos mais seguros, acelerando a nossa ascensão espiritual. Elevar esse padrão vibratório, como todos bem conhecemos, não é algo tão simples na vida cotidiana, pois temos de constantemente lapidar os nossos instintos mais primários, sublimando-os por posturas mais condizentes com uma nova frequência de energia muito mais alta. Isso exige muita disciplina e esforço pessoal constante, dá trabalho, como costumamos dizer, e se nos dá trabalho, quando conseguimos ser minimamente bem sucedidos, sentimos a satisfação interior do mérito, ou seja, fizemos por merecer, nada nos chegou tão-somente pela graça divina. Claro que se tudo é Deus, até nosso impulso por nos autoburilarmos é direcionado pela Consciência Cósmica, mas essa ação, aos nossos olhos, se dá de forma indireta, fazendo parecer que somos nós que estamos construindo nosso mérito, ajudando-nos a eliminar o conhecido pela Kabbalah como o Pão da Vergonha.

“Deus, dai-nos a força de auxiliar o progresso.”

Mais do que força física, o que se pede aqui é a força moral, a força espiritual e ética para vencer-se a si mesmo, e por meio desse empenho surge o progresso, que é a superação, que é a soma das experiências já vivenciadas às novas situações que nos surgem a frente, testando-nos as reações e garantindo mais aprendizado, mais bagagem. Assim, progresso não é deixar o passado que tivemos, querendo apagá-lo, para vivenciar coisas novas. Na essência divina, não se elimina nada, tudo é reaproveitado. Em verdade, progresso é aprender com tudo o que já foi vivido, tirar o melhor possível de cada experiência, inclusive daquelas que taxamos como traumáticas, para então construir o novo, o diferenciado, o algo a mais. Quando tentamos excluir algo de nossas vidas pelo simples fato de considerarmos que o vivido foi negativo exclusivamente, desperdiçamos uma chance ímpar de ver que tudo é útil na caminhada ascencional dos seres. Seja o que for que nos aconteça, não importa o quê, é de grande sabedoria não praguejarmos, pois isso despende muita energia vital à toa, não nos acrescentando nada. Antes, perguntemos: o que preciso aprender com o que me aconteceu? Qual o objetivo de eu ter passado por tal situação? O que vivenciei foi instrumento importante e necessário para fazer-me despertar a respeito de que aspecto de minha vida? Ainda que a resposta não venha de imediato, pois na maioria das vezes não vem, o que vale é que esse estado de consciência em que nos colocamos com abertura para a busca de respostas construtivas gera uma condição receptiva muito mais favorável em nossas vidas, permitindo que a caminhada flua naturalmente, seguindo o seu curso até um momento em que a resposta se mostra pronta diante de nós, sem grandes esforços, e a sabedoria maior estará em, além de tudo isso, sabermos que o que mais valeu e acrescentou não foi a resposta em si, mas toda a caminhada e seu percurso sinuoso que ajudou a construir a resposta. Em miúdos, o que vale é a experiência, muito mais do que o resultado dela.

“A fim de subirmos até Vós.”

O verso anterior praticamente elucida já este, todavia há um ponto significativo ainda a ser ressaltado aqui. Somos nós que subimos ao Criador, e não ele que desce até nós. A elevação vibratória depende de nós, das nossas escolhas, do nosso querer, da nossa flexibilidade de conceitos e maneiras de ser-no-mundo. O trabalho é só nosso. A Grande Mônada Cósmica já está onde tem de estar. Nós nos distanciamos da plenitude, portanto somos nós que sentimos falta de viver a plenitude, portanto não é a plenitude que deve vir nos preencher o vazio, mas nós que devemos nos abandonar em profunda entrega, de corpo e de alma, com todo o nosso querer e poder de decisão, aos caminhos que nos conduzem a essa reconexão ao Todo, à Fonte Imanente que dispõe de tudo que necessitamos para nos sentir integrais, plenos. Esse é o "Seja feita a Vossa Vontade" para que "Venha a nós o Vosso Reino".

“Dai-nos a caridade pura.”

Se devemos ser caridosos, até porque é o Cristo que afirma "Fora da caridade não há salvação", o primeiro que precisa de caridade somos nós mesmos. E caridade está muito longe de se restringir ao dar uma esmola a quem quer que seja. Não há como progredirmos se não formos caridosos, e não há como sermos caridosos com ninguém sem construirmos antes esse estado de espírito superior em nós mesmos. O progresso exige soma de experiências e aprendizagem a partir de cada nova vivência. E quem está experienciando a vida não sabe o que vem pela frente, não tem ainda o domínio e fica sujeito, portanto, ao tropeço, ao equívoco. No equívoco, também há experiência e aprendizado, mas é preciso ter olhos de ver e ouvidos de ouvir, como apregoa o Cristo. E não há como adquirir experiências com aprendizagem, mesmo a partir de consequências que taxamos como ruins, negativas, sem que tenhamos atitude interior de caridade pura, ou seja, precisamos estar cem por cento desarmados, desprovidos de máscaras psicológicas para conosco mesmos, devemos ser compreensivos conosco em nossos tropeços, humildes, para podermos ter a grandeza de nos perguntarmos: "O que eu preciso aprender com meu tropeço, com meu erro?". E precisamos ter gratidão, agradecer essas experiências que chamamos de erros ou equívocos, porque também são nossos professores. Se somos orgulhosos, não admitimos o erro, não nos perdoamos pelo tropeço, não queremos aceitar a falibilidade e, pior, não enxergamos que ao falirmos recebemos a bênção de poder entender algo que, talvez, sem cair, jamais nos daríamos conta. A sabedoria está nisto: em não excluirmos nada, nenhuma possibilidade de encontrarmos sentido e mensagem em qualquer coisa que nos aconteça. E enquanto não formos capazes de sermos caridosos para conosco mesmos, valorizando o acerto e o erro, não há como estarmos lúcidos o suficiente para praticarmos a caridade mais profunda com o nosso próximo, por mais abominável que nos possa parecer, eventualmente, uma atitude sua. 

“Dai-nos a fé e a razão.”

Cáritas roga à Consciência Superior que não a deixe cair no fanatismo, mas que também não a faça uma cética. Sim, porque a fé sem razão exagera para o fanatismo, e a razão sem fé é como uma árvore sem vitalidade, seca, caindo no ceticismo. Cáritas quer o equilíbrio, quer raciocinar para compreender melhor as coisas de Deus, mas também quer a fé inabalável para que seu raciocínio seja criativo, pleno de iniciativa, e para que não recaia constantemente sobre a angústia da dúvida, da incerteza. Em verdade, o que Cáritas deseja é um símbolo do que é o caminho do meio, o caminho de Buddha para todos nós, irmãos de caminhada.  A fé e a razão são o grau sublimado da religião e da ciência. Na história, antes de existir a ciência materialista reducionista tal qual podemos verificar imperando ainda nos grandes centros de pesquisa do mundo, não havia a barreira que se criou entre a ciência e as religiões. Astrologia, alquimia, magia, filosofia, medicina natural eram ciência e religião. Passados vários séculos em que essas ciências foram descreditadas e vulgarizadas ao nível do charlatanismo e da crendice, diante da soberania acadêmica e científica tradicional, hoje, com o despontar da Física moderna, dimensionando a realidade no nível quântico, em teorias que têm posto em questionamento ao último grau a constituição da matéria, que parece ser bem mais imaterial do que o que se crê, voltam a ganhar credibilidade  crescente e mesmo tom científico os conhecimentos que até há pouco não passavam de mero misticismo, confirmando a sabedoria milenar a nós legada pelas grandes civilizações da antiguidade.

“Dai-nos a simplicidade.”

Que maravilha o mundo seria se todos buscássemos viver com simplicidade. Simplicidade para decidir as coisas. Simplicidade optando pela honestidade, pois mentir dá muito trabalho e torna tudo muito mais complexo. Simplicidade no relacionamento interpessoal. Simplicidade na forma de se dirigir a Deus, sem ritos exagerados que mais obstruem as múltiplas formas de Ele se comunicar conosco do que facilitam. Simplicidade ao interpretar as coisas tais quais elas realmente são, e não conforme o mascaramento que criamos para "dourar a pílula", como se diz, dando-lhes o matiz que melhor nos convém. Simplicidade para admitir os próprios erros e traçar novas escolhas e caminhos. Simplicidade para respeitar o meio ambiente e viver de acordo com as leis da natureza. Simplicidade para ser feliz com os pequenos encantos da vida e com todas as oportunidades que recebemos para evolução pessoal. Simplicidade para saber reconhecer essas oportunidades. Simplicidade, enfim, para desistir de viver sob o jugo do Ego e para entregar-se em definitivo e por inteiro aos comandos e desígnios de nossa Consciência Superior.


“Que fará de nossas almas um espelho.”

Optar pela simplicidade nada mais é do que conectar-se à essência. A essência é luz, é cristalina, é resplandescente, é vida em equilíbrio. Viver com simplicidade é viver em coerência com os valores divinos, que nada mais são do que os largamente apregoados no Evangelho. Esses valores geram limpidez, pureza da alma, retiram todas as "cascas", todas as vibrações de baixa frequência que obstruem o livre fluxo da luz que somos, da centelha divina, do Eu Sou. Se almas estão limpas, estão tranquilas, como as águas de um lago em dia de sol e sem vento, apenas com uma suave brisa que nos acaricia a face.


“Onde se deve refletir a Vossa Divina Imagem.”

E se o lago está calmo e límpido, reflete perfeitamente a imagem. Se somos Deus e se nossas almas estão vibratoriamente alinhadas à Consciência Crística Divina, o espelho não poderá refletir outra imagem que não seja a perfeição de Deus, sua obra em seu esplendor maior.


         Como leitura complementar, sugerimos a obra de Regis de Morais: Cáritas e sua prece histórica, da editora Allan Kardec.