“Deus, nosso Pai, que
sois todo poder e bondade.”
 
Nesse verso, Cáritas caracteriza o
Grande Arquiteto como sendo “nosso Pai”, e nisso está implícita a ideia de que
o pai é o gerador, é o criador, é o que deposita a semente da vida, é o que
impulsiona o sopro de vida sobre todos os seres, animados e inanimados,
visíveis e invisíveis, desta dimensão e universo assim como de todos os demais
planos manifestos e imanifestos da Criação. Por isso, é nosso pai, é de todos
indistintamente. Ainda na sequência, a abnegada irmã Cáritas usa a forma do “vós”
(2ª pessoa do plural), manifesta no verbo “sois”. Ora, a forma do “vós”,
conforme se sabe, é uma maneira respeitosa de nos referirmos a alguém em um
patamar hierárquico superior, mas não é só isso, “vós” expressa plural, o que
quer dizer “mais de um”. Quando dirigimos nosso pensamento ao Criador
compreendendo que ele é uno e, ao mesmo tempo, é plural, integramo-nos à
essência desse Criador, sentimo-nos parte Dele, visto que cada um de nós, desde
as formas menores que o átomo até as estruturas mais complexas de organismos
vivos como constelações, galáxias, universos, tudo e todos são irradiações da
luz divina, são infinitas possibilidades de a Consciência Cósmica se
manifestar. Em outras palavras, não há nada fora de Deus, não a nada além de
Deus; Deus é soberano e abarca a tudo que existe, pois Ele é a própria
existência. Quando então elevamos nosso pensamento dirigindo-o a Deus, estamos
pedindo a nós mesmos, à porção mais Superior que impregna e anima tudo que
existe que essa força se direcione para nós, aproxime-se de nós,
interpenetre-nos, manifeste-se através de nós. E se esse Deus é “todo poder e
bondade”, cabe-nos compreender que “poder” é força, é firmeza, é energia
criadora, é potencial, é virilidade, é polaridade ativa e masculina, porque o
masculino, antes de se associar ao sexo, ao corpo físico de um homem, deve ser
compreendido como uma polaridade de ação, de movimento, de energia, de doação,
de trabalho, de autocontrole. Em polaridade oposta, mas não contrária, temos a
“bondade”, que é energia potencial de polaridade feminina, passiva, de recepção
(recebimento), é docilidade, é afetuosidade, é amor, é compreensão, é
sensibilidade, é o lado maternal da energia. Assim, se há duas polaridades,
masculina e feminina, nos atributos da divindade, Deus é a harmonia, o
equilíbrio pleno entre esses atributos. Cáritas está louvando a Deus não
somente como pai, mas como Pai-Mãe de todos nós, de todo o Universo. E mais, se
Deus está em nós, se somos um com Deus, se as duas polaridades são atributos de
Deus, todos nós, eu, você, todos somos masculino e feminino energeticamente
falando, todos temos o ativo e o passivo como polaridades ao mesmo tempo
opostas e complementares. É a lei do magnetismo. O mais (+) e o menos (-)
completam-se um ao outro para dar manutenção ao equilíbrio de um todo, o ímã, e
nós somos esse ímã de pura energia. Quanto em tão poucas palavras! Quanta
sabedoria universal na humildade das palavras de Cáritas!
“Dai força àquele que
passa pela provação.”
        Bem interpretado, Cáritas pede à
Grande Energia Cósmica que conceda da sua polaridade masculina àquelas almas,
àquele ser que esteja vivenciando a experiência do teste espiritual, sim,
porque toda prova, todo desafio enfrentado, tudo que entendemos como sendo
dificuldades, a que damos inadequadamente o nome de problemas, tem por objetivo
último servir-nos de teste, de prova espiritual, verificando o quanto cada alma
já amadureceu ou não, já se tornou adulto autônomo ou ainda não saiu das
fileiras da infância espiritual. Ora, só podemos ter real certeza do nível de
amadurecimento atingido mediante um desafio, um teste, uma prova, pois são mecanismos
que exigem de nós uma decisão, uma postura, uma atitude. Dependendo de como
reagimos e posicionamo-nos, encontra-se aí um indicador que determina se o “aluno/aprendiz”
pode seguir em frente, sendo exposto a novos desafios, cada vez de mais
responsabilidade, ou se carece retomar a lição, estagiar mais um tempo no mesmo
ciclo, até que vença de vez todos os níveis de complexidade daquela fase, para
então ser aprovado e considerado apto a outras vivências que lhe garantirão
mais experiência e desenvolvimento evolutivo. E, para tanto, para nos sentirmos
encorajados a enfrentar os desafios, é necessária a energia do masculino, a
FORÇA, a firmeza de propósitos, o destemor, o espírito de luta que não se
encolhe, que não se acomoda, que sai da zona íntima de conforto para encarar a
autossuperação, que só acontece quando, diante dos desafios aparentemente
externos, demonstramos uma atitude de maturidade e superioridade moral. Isso
decreta termos vencido o teste, a provação.
“Dai luz àquele que
procura a verdade.”
        Nesse pedido, há um conhecimento importante também a ser considerado. Sabiamente Cáritas roga que seja respeitado o livre-arbítrio acima de tudo, pois uma das leis maiores do nosso Universo é o incondicional respeito à livre escolha de cada alma. Veja como isso é sutil nas palavras de Cáritas, pois no geral não nos damos conta de que esse conhecimento está implícito na rogativa. Há almas que ainda vivem no nível da ilusão, pautam suas existências tão-somente nos valores do dia-a-dia da materialidade, contentam-se com isso, acreditam que isso, por si só, já as faz felizes, algumas inclusive chegando a acreditar que a felicidade restringe-se a todo prazer que se pode vivenciar apenas por meio dos cinco sentidos humanos. Outras almas, porém, já despertaram para a existências de valores maiores, de uma realidade mais ampla, de um mundo que está para além do senso comum, dos sentidos comuns, das experiências comuns. Essas almas sabem que toda felicidade vivida no aqui e agora, apenas por intermédio dos recursos materiais, está muito longe duma felicidade mais profunda, verdadeira, autêntica, perene, que se pode ser vivida pelas mentes que buscam a conexão com a essência, com o que realmente importa na vida de qualquer ser, a autoconsciência de sua identidade imortal e todos os atributos imanentes à condição divina de todos nós. Desse modo, respeitando a individualidade, as escolhas de cada um, só quem busca a verdade, só quem busca luz, só quem busca conhecimento, sabedoria, está apto a receber tal energia, pois torna-se aberto a isso, predisposto a receber isso. É o "pedi e obtereis, buscai e achareis, batei e a porta se vos abrirá". Por mais que o conhecimento universal esteja a disposição de todos, por mais que a Força Cósmica queira revelar-se a todas as criaturas, essa verdade, essa revelação só acontece de forma integral a quem quer, a quem busca, a quem pede, a quem procura. Não se pode impor nada a quem não quer, não busca, não procura. É da Lei do Livre-Arbítrio. De que adiante oferecer abundantemente vinho a quem quer saciar sua sede com água?
“E ponde no coração do
homem a compaixão e a caridade.” 
         Esse pedido destina-se a toda a humanidade, mas principalmente àquelas criaturas que ainda demonstram, em suas atitudes diárias, o coração empedernido, posturas rígidas, muito firmadas no ego, distantes, portanto, do pensamento altruístico. Note-se que o que se pede é a compaixão, e não o sentimento de pena. Quem sente pena, em verdade, ainda se coloca em uma posição de superioridade em relação ao próximo. Além do mais, a pena não ajuda em nada, não faz qualquer movimento para auxiliar no soerguimento de uma alma combalida. Já a compaixão, ao contrário, vem de 'compadecimento', o que significa 'padecer junto'. Isso não quer dizer que devemos passivamente sofrer abraçados a quem sofre. Isso significa, sim, que partilhamos daquela dor, no sentido, de entender o próximo, de se colocar em seu lugar, de pensar também sob a perspectiva de quem vive a experiência difícil e dolorosa. Tal atitude nos coloca lado a lado, faz de nós irmãos de caminhada, e não superiores e inferiores, seres distanciados uns dos outros. Quando Cáritas pede que se instaure a caridade no coração do homem, não olvidemos o fato de que, antes de mais nada, devemos ser indulgentes e caridosos para conosco mesmos. Fique claro que caridade para consigo não tem qualquer relação com desculpismo ou coitadismo, vitimismo. Trata-se de ser consciente e responsável por seus próprios atos e pensamentos. Detectado(s) o(s) ponto(s) frágil(eis) de nossa personalidade que nos conduz à queda, ao tropeço, é necessário que não adotemos o sentimento de culpa, que não abriguemos em nossa mente o constante estado de autopunição, o que leva a uma cristalização mental obsessiva, impedindo que nos flua a lucidez de que precisamos para encontrar os meios pelos quais corrigiremos os pontos que ainda não estão em equilíbrio. Se não nos perdoamos, se não nos aceitamos, se somos muito rígidos para conosco mesmos, se não nos tornamos seres capazes de doar a nós mesmos, como poderemos doar a alguém, perdoar outro irmão de caminhada, aceitar suas condições evolutivas? Como posso, em outras palavras, ser caridoso com meu próximo, se ainda trago marcas profundas de questões mal resolvidas em mim mesmo e não consigo lidar com isso? Será que sobra espaço para pensar altruisticamente quando ocupo minha mente integralmente com o que não concordo em mim, ou quando não admito ser passível de erros, ou ainda quando só penso no que quero, no que acho bom apenas para mim, não interessando o que de fato é o melhor para mim e para todos ao mesmo tempo? Ego, ego, ego... Eis o calcanhar de Aquiles de toda alma em desenvolvimento espiritual.
“Deus, dai ao viajor a
estrela guia.”
          Mais uma vez, firmando a força
magnética da oração, o poder do verbo transformador, Cáritas exalta em súplica
o nome condensado da Grande Mente Cósmica (DEUS), e, por analogia, compara o
espírito em desenvolvimento a um viajante (viajor), porquanto, em certo
sentido, é o que somos, ou melhor, é o estágio em que nos encontramos. Somos
viajantes rumando à reconexão e integração total com a Fonte, a Mente Divina.
Somos individualidades, emanações da LUZ que se distanciaram da Fonte como os
raios do sol também o fazem, a fim de vivermos a experiência, a experiência do
distanciar-se da Fonte, sentir tudo que esse distanciar-se pode gerar e, com
consciência integral de quem somos, fazermos o caminho de volta ao seio do
Grande Sol Central. Compreendamos: se não há nada que não seja Deus, pois Deus
é a essência e a causa última de tudo que existe, se nós somos criaturas que
fazem parte do “corpo divino”, pois tudo está nEle, Ele está manifesto em tudo,
somente sua energia, sua sabedoria infinita e eterna pode dar ao viajante que
está à procura de seu destino a estrela que lhe dê norte, que seja seu guia,
orientando seus passos. E eis a revelação, o segredo desvendado: nossa estrela
guia nada mais é do que a INTUIÇÃO. A intuição é um nível mais elaborado do
pensamento, captado diretamente do plano dimensional das ideias originais. Na
mente de Deus, tudo já existe, não há nada mais a ser criado. Isso porque, se
não existisse e passasse a existir através da criação, seria algo exterior à
mente divina, o que não é possível visto ser Deus o Absoluto. No Absoluto, tudo
já é, sempre foi e sempre será. Assim sendo, nós, na terceira dimensão, nada
criamos. Tudo já está pronto na dimensão do ideal. O que fazemos, por conexão
vibratória consciencial, é entrar em sintonia com o plano das ideias, com o
nível dos modelos, e trazer para a terceira dimensão algo que aqui é novo, aqui
é entendido como algo criado, inventado, mas que não passa de uma inspiração,
de uma intuição do que já vem pronto, bastando-nos materializar tal ideia na
fisicalidade. O iniciado, o homem superior, aquele que busca o constante estado
de sintonia com a mente divina, fundindo-se a ela, torna-se uma antena
intuitiva. A intuição, por vir da Fonte, nunca é desconexa, nunca é sem
sentido, é a estrela guia que direciona com segurança os passos do espírito sinceramente
devotado à ascensão, a evolução consciencial. 
“Ao aflito a consolação
e ao doente o repouso.”
     Nesse verso, eis novo exemplo de sabedoria. A irmã Cáritas não pede pura e simplesmente a retirada das aflições da vida de alguém. Pede a consolação a todo aflito. Não interfere no livre-arbítrio de ninguém em sua rogativa ao Alto. Aflições existem muitas em graus mais ou menos intensos de angústia, de melancolia, de sofrimento, de amargura. Porém, não fugindo à Lei Universal, algo causou a aflição de alguém. Isso não aparece do nada. As aflições surgem a partir da nossa incapacidade de lidar com equilíbrio emocional em relação a determinadas situações e pessoas. Qualquer adversidade pode chegar a nossa vida o tempo todo, e isso não pode ser eliminado de nossas existências, pois ainda é recurso eficaz, por meio do qual somos incitados à busca de soluções, e essa busca gera desacomodação, gera aquisição de novas informações e saberes, gera conhecimento de novas pessoas, e toda essa bagagem adquirida constitui nosso processo de evolução (desenvolvimento consciencial). Assim, pedir à Fonte da Vida que retire de vez todas as aflições da vida de alguém é um comprometedor ato de imaturidade espiritual, porquanto significaria o mesmo que, por analogia, pedir à direção da escola que os alunos fiquem sem professor, querendo que, ainda assim, haja aprendizagem. Cáritas pede consolação, pois há aflições extremamente difíceis, duras, que testam até o último de nossos limites e, como também é da Lei a misericórdia divina, mister se faz que o aflito receba apoio, amparo, fortalecimento interior, esclarecimento para compreender o porquê da aflição, a causa primeira que sempre reside dentro de nós mesmos. Essa ajuda verdadeiramente positiva e proativa é que representa a consolação, e não o tão comum "pobrezinho!!!", "coitadinha!!!", "ah, que pena, né?!". Esse apoio a quem precisa é, sim, um dever, uma obrigação de todos nós, irmãos em humanidade, uns para com os outros, e é a nós de quem Deus se utiliza para que aquele que mais necessita, o aflito, possa receber o amparo que lhe cabe. Nós somos a ferramenta do Alto. De igual modo, Cáritas não pede a cura definitiva a todos os males físicos daqueles que estão doentes. Novamente isso significaria infração ao livre-arbítrio, seria vilipendiar um mecanismo restaurador de consciências, que são os variados processos de enfermidades pelas quais podemos ser acometidos. As doenças geram muitas agitações em nosso ser: agitam as moléculas e células, fazendo-as atuar em desequilíbrio; agitam os órgãos, alterando sua regular funcionalidade; agitam a mente, que fica martirizada de preocupações; agitam o sistema emocional, que passa por um turbulento furacão de reações íntimas; agitam os centros de força (chakras) e corpos espirituais, bloqueando o livre fluxo de energia vital. Um ponto reflete diretamente em todos os outros. E, por incrível que nos pareça, tudo isso é instrumento de lapidação e despertar de nossas almas para a maturidade e autonomia espiritual. Não podendo extirpar o que é de grande utilidade, podemos sim pedir o repouso, o relaxar, o afrouxar de tensões, de medos, de culpas, de angústias, podemos pedir a descristalização de nossas mentes, fazendo-nos colocar fora do problema, a fim de que consigamos percebê-lo em seu todo, em seu conjunto, o que nos dará mais lucidez para melhor atuação, para decisões mais coerentes, acertadas e menos passionais e parciais. Essa condição de lucidez é um repouso, um refresco, um refrigério para nossas almas.
“Pai, dai ao culpado o
arrependimento.”
Neste ponto, há uma séria consideração a ser feita. Todo aquele que se sente culpado por um "erro" cometido não consegue estabelecer o autoperdão, aliás, não consegue nem mesmo admitir que precisa se perdoar. Se alguém não se perdoa, como poderá aceitar o perdão de quem foi agredido ou prejudicado? Caso ainda mais grave é o da pessoa que não reconhece ter agredido ou prejudicado a outrem, pois vê-se sempre como o centro da razão, o único correto. Assim, não sente culpa, porque "não fez nada de mais", foi "perfeita" em suas ações, portanto não precisa se arrepender de nada e, em não se arrependendo, não há o que reparar, não precisa rever nada em suas atitudes. Essa é uma das mazelas maiores da humanidade: o ego, a hipervalorização do "eu". Cáritas não culpa ninguém nem diz que Deus considera alguém culpado. Cáritas apenas pede o arrependimento ao culpado, ou seja, nossa irmã pede que Deus conceda à consciência dos irmãos que carregam dentro de si a cobrança da culpa o sublime conforto do arrependimento, primeiro grande passo para a renovação de atitudes. Para entendermos didaticamente, a mecânica universal segue, mais ou menos, esta linha:
1. Deus não está fora, está dentro de nós. Nós somos uma fagulha de Sua consciência infinita. Mas não importa o tamanho, importa que somos. Somos uma parte de Deus. Portanto, se Deus nos culpasse de algo, estaria culpando a si mesmo, ao menos a uma parte dEle.
2. Deus é Amor Justo. Justiça e Amor compõem o seu cetro de regência cósmica. Assim são governados os mundos. Se Deus nos culpasse, nós, que somos parte dEle, criação Sua, seríamos o atestado de que Deus não é soberano, não é Absoluto, é imperfeito, e isso geraria, ou confirmaria, a teoria do caos, a própria consciência criadora é caótica, portanto trabalharia por sua própria autodestruição. É ÓBVIO QUE NÃO É ASSIM!!! ISSO SERIA ABSURDO.
3. Ninguém é, por natureza, culpado de nada. NÃO EXISTE CULPA!!!!! Repito: NÃO EXISTE CULPA!!! Isso foi construído no decorrer da história da humanidade para que nos mantenhamos cristalizados no estado de remorso e autopunição, não tendo olhar para novos horizontes e, consequentemente, mantendo-nos aprisionados ao ciclo das encarnações na 3ª dimensão, também chamado Roda de Samsara (origem do sânscrito). Meus irmãos, o que existe é RESPONSABILIDADE, e não CULPA. Somos o tempo inteiro responsáveis, sim, sobre tudo o que fazemos, dizemos, pensamos... O espírito tem de amadurecer, e com o amadurecimento vem a responsabilidade. Somos responsabilizados por como conduzimos nossa existência e pelo que cultivamos em nossas mentes diariamente, mas não somos culpados, nunca, jamais, isso é contrário às leis de Deus.
4. Evidentemente, Cáritas conhece essa verdade, mas sua súplica não é pelos que conhecem, mas pelos que desconhecem, pelos "ignorantes" (no verdadeiro sentido da expressão), pelos desvalidos, pelos que ainda se martirizam na culpa, os que se sentem culpados.
5. Finalmente, para quem se sente culpado, não há outro caminho senão caminhar até alcançar, em sua consciência, o estado de arrependimento, não para se autopunir. Isso não é se arrepender. Arrepender-se é encarar (olhar face a face) o "erro, a falha, o prejuízo" cometido contra si ou contra outrem, reconhecendo a necessidade de mudar o padrão de comportamento, começando pela reparação ao "mal" causado.
6. Coloco estas palavras "erro", "falha", "prejuízo", "mal" sempre entre aspas, porque em verdade aqui também há uma grande distorção histórica quanto a esses conceitos. A carga de significação dessas palavras leva sempre a um juízo, a uma postura tachativa, unilateral. Não existem agressor e vítima no sentido absoluto que se lhes atribui dentro da mecânica universal. Existem responsáveis, ou ainda, corresponsáveis, e tudo precisa chegar a um bom termo, ao equilíbrio, ao Caminho do Meio de Buda, ao Amor Justo.
“Ao espírito a
verdade.”
Agora Cáritas pede que Deus dê ao espírito a verdade. Sem sombra de dúvida, uma rogativa de profunda significação. Na prece, ela já havia pedida que Deus desse a luz a todo aquele que procura a verdade, e aqui novamente a verdade em jogo. O que procura a verdade é aquele que ainda vive na matéria, o que vive na escuridão e, como quem está vendado, sai à cata de algo que sente ter necessidade de encontrar, mas não sabe direito o que é, como é, onde está nem quanto tempo levará para achar. Entenda-se bem, quem vive na matéria não é só os seres encarnados, neste planeta ou em outros; não, quem vive na matéria é quem tem sua mente vibrando predominantemente nas faixas de alta densidade, é quem pensa materialmente, é quem sente todas as paixões materiais: medo, culpa, angústia, dúvida, ódio, egoísmo, inveja, ciúme e por aí vai... Não nos preocupemos, podemos tranquilamente desencarnar e ainda permanecermos sumamente materiais, materializados, solidificados nos paradigmas desta 3ª dimensão. Então, esse é o que procura a verdade, e fica como uma barata tonta, mas tem muita dificuldade de encontrá-la, e no mais das vezes não a encontra. Por isso, Cáritas, banhada em inspiração e sabedoria, pede luz a quem procura. Luz, espiritualmente falando, é informação, conhecimento, mas não qualquer conhecimento. Trata-se de conhecimento espiritual universal. Luz é o conhecimento iniciático, é a chave dos mistérios da vida e da morte, é a compreensão da engrenagem cósmica e de como estamos inseridos nessa engrenagem, qual é o nosso verdadeiro papel. Já ao espírito Cáritas pede que Deus conceda a verdade. Sim, Deus só pode conceder a Verdade ao Espírito, ao nível de nossa consciência que está acima e além de toda matéria tal qual a concebemos atualmente. A Verdade é a dimensão do Espírito, e o Espírito é nossa porção divina, é a Centelha que emana da Grande Fonte, é o sopro de Deus. Quando nossas mentes na condição alma, perispírito, corpo mental concreto conseguem fundir-se com o Eu Superior, quando conseguem alcançar a experiência mística, transcendental e individual de fusão com esse Eu, com o Cristo Interno, então têm acesso às grandes leis, passam a conhecer a única grande Verdade que reside muito além de nossa dimensão terrena, embora esteja interpenetrada inclusive nessa dimensão. É o que todos devemos buscar: a Verdade. Dentro, não fora. Em nossas consciências, atitudes, desejos, e não nas ciências que ditam inúmeras regras que frequentemente se contradizem, pois só analisam o relativo, não tendo acesso ao Absoluto. Nós somos o templo dos grandes mistérios. Conhece-te a ti mesmo e desvendarás a Criação.
“À criança o guia e ao
órfão o pai.”
Todo espírito que ainda se debate no enfrentamento de suas próprias paixões é considerado espiritualmente uma criança. A maciça maioria da humanidade é extremamente apegada ao aqui e ao agora. É birrenta. Tem de ser "como eu quero, quando eu quero, do jeito que eu quero, com quem eu quero, porque eu quero". O "eu" ainda fala muito alto, dando pouquíssimo espaço ao "nós" em termos globais. Sim, nossa humanidade está se regenerando, estamos rumando à maturidade espiritual e consciencial, uns mais celeremente que os outros, mas, no grande grupo, o processo ainda é bem lento. Então somos teimosos e birrentos, no coletivo e individualmente. Ora, teimosia, birra, bateção de pé, "não quero", "não posso", "não vou", "não estou a fim" é coisa de criança, não é verdade? É postura imatura. Portanto, somos sim crianças espirituais. Sempre há os mais madurinhos, os adolescentes do grupo, porque a espiritualidade, nossos "pais", precisa encontrar suporte na Terra para conduzir a filharada, e se todo mundo for indistintamente infantil, não há quem faça o barco navegar, não é mesmo? Então é isso. A criança precisa de guia, de quem dê norte, de quem direcione os passos, o que não significa em absoluto dar resposta pronta para tudo, dar mastigado. Lá vem novamente a nossa criança egoica querendo que tudo seja resolvido sem esforço... Deixa que o guia se vire! Ele faz o meu trabalho! É guia mesmo, então ele é quem sabe, eu só sigo atrás sem nem raciocinar... Preguiça é coisa de criança... Onde fica o mérito da conquista, o mérito da descoberta por conta própria, o prazer de dizer "eu consegui"? Com ajuda, mas consegui. Não ganhei tudo de mão-beijada. Vejam como somos imaturos em sua maioria ainda. Somos duplamente insatisfeitos: se vem pronto, que graça tem? Já está tudo feito! Se só vem uma leve pista, nossa, que difícil, não dá para facilitar a vida? Birra, criancice espiritual. Os mentores, guias espirituais, anjos guardiões, amparadores, ou qualquer que seja o nome que queiramos lhes atribuir são justamente esse guia a que se refere Cáritas em sua prece. Quem pede orientação, norte ao seu guia diariamente? Ele vem para trabalhar, ele é delegado por Deus para nos auxiliar, mas o jogamos de escanteio e pouquíssimo se filtra do que ele(s) nos orienta(m). A maioria ignora sua existência, e o bloqueio psíquico se torna quase que total. A segunda parte do verso também é importante. Ser órfão de pai aqui como encarnados na Terra não é tarefa fácil, mas como somos adaptáveis, flexíveis, maleáveis de acordo com o contexto, já aprendemos a nos "virar", ainda que em condições adversas. Mas ser órfão de pai espiritualmente falando é a única coisa que não poderia nos acontecer, sob pena de comprometimento de nossa felicidade e de nossa própria existência. O nosso pai espiritual é a consciência superior que habita dentro de nós e que nos convoca ao trabalho pelo nosso progresso e por desvendarmos a essência desse pai. Se nos desassociamos constantemente dessa voz interior, dessa intuição maior que rege a nossa caminhada, se nos desassociamos do nosso Eu, do Self, da Centelha Divina que somos, isso é o mesmo que mergulhar de cabeça em escuridão, em trevas, em desconexão com nosso prumo. É como bater com toda força com uma marreta no próprio dedo e querer que não doa, que nada aconteça de anormal. Se nos posicionamos como órfãos do Pai Divino, Cáritas roga que, de algum modo, o órfão possa se reconectar ao Pai, e este, por misericórdia, possa novamente acender a luz da orientação para quem tastaveia a esmo na penumbra da estrada.  
“Senhor, que a Vossa
bondade se estenda sobre tudo o que criastes.”
A irmã Caridade roga à Essência da Vida que o seu lado feminino, a sua polaridade ligada ao aspecto das qualidades como a sensibilidade, o materno, a amorosidade, a docilidade, a compreensão, a bondade, enfim, estenda-se sobre toda a Criação. Cáritas não pede apenas pelas pessoas, pelos seres humanos, ela pede a bondade sobre tudo o que Deus criou, assim, faz-se referência a todas as formas de manifestação da vida, refere-se aos reinos elemental, mineral, vegetal, animal, hominal, angelical, arcangelical, celestial, búdico, monádico; faz-se referência aos átomos, às moléculas, às células, às microestruturas cromossômicas; incluem-se as leis da Física, da Química, da Biologia, da Matemática, pois todas se expressam na regência cotidiana da natureza, sendo parte integrante da criação e da vida;  faz-se alusão ao planeta Terra, aos outros milhões de planetas, galáxias, universos, conhecidos e desconhecidos da ciência humana. Tudo isso é vida. Tudo é criação. Tudo é forma manifesta da vontade da Consciência que Tudo É. O pedido de Cáritas é universal, pois não há quem não necessite da bondade, da polaridade feminina da vida para alcançar o equilíbrio, a autoiluminação.
“Piedade, Senhor, para
aqueles que vos não conhecem.”
Retornando-se à etimologia das palavras, piedade vem de pietas que, em latim, significava "afeição, dever, piedade", e pietas é palavra derivada de pius, também latina, a qual relacionava-se a quem era "bondoso, devoto, cumpridor de deveres". O interessante é que, neste verso, temos uma via de mão dupla. Cáritas pede a bondade, a benevolência de Deus para com todos os que não penetraram em Sua essência, não entendem o sentido de Deus como regente dos universos, não conhecem a si mesmos, renegando a divindade que todos somos. Como somos todos Um com Deus, a piedade também é de nós para conosco mesmos e é ainda o caminho para se chegar à fusão entre as consciências menores e a Macroconsciência. Se pius é aquele que é bondoso, que é devoto, que cumpre com seus deveres, piedoso é todo o que adquire a compreensão de qual é o seu real papel perante a vida, assumindo a responsabilidade pelos seus próprios atos, pensamentos, palavras, ocupando-se em disseminar o equilíbrio, a alegria entre todos, o espírito de união, a bondade. Isso é cumprir como nossos deveres enquanto filhos de Deus, porque somos emanação dEle. Piedade não é ter pena, é ser justo, é fazer o que precisa ser feito. Todo aquele que está distante, dissociado de Deus, está distante, dissociado de si mesmo e precisa da corrigenda, precisa do burilamento, da lapidação. Não basta sermos diamantes e não resplandecermos o brilho de um diamante autêntico. Temos de ser e aparentar. Ser por dentro e fazer com que isso se revele a todos por fora. Se Deus tiver piedade de nós, isso significa que nos lapidará de todas as formas necessárias para que alcancemos o esplendor de nosso brilho. E aqueles que já se aproximaram mais de Deus, que estão no caminho mais direto de fusão entre consciências micro e macro, não necessitarão tanto da piedade para consigo, mas terão de, invariavelmente, ser piedosos para com o próximo, compreendendo as dificuldades evolutivas de cada um, porém sem serem omissos, sem deixarem de colaborar com o Pai, o Garimpeiro de Almas, na lapidação de seus coirmãos.
“E esperança àqueles
que sofrem.”
Note-se que a prece inteira é devotada aos desvalidos do mundo, e o objetivo é oferecer a paz de espírito, mas oferecendo os recursos que levem esses mesmos desvalidos a reerguerem-se perante si mesmos. Todo aquele que sofre, todo aquele que vive os martírios de sua consciência ante as adversidades que a vida nos impõe para aprendizado e crescimento necessita de um combustível, de uma mola propulsora que lhe permita ver a luz no fim do túnel, que lhe possibilite um refrigério interior, retirando de suas vistas o peso da sobrecarga emocional que o sofrimento gera, de modo que possa restaurar sua conexão interior com a luz e a verdade, encontrando a melhor saída para o que passa ou sofre. Esse refrigério para alma, essa fonte cristalina que nos alimenta de força e coragem é a esperança. Esperança vem de "esperar", porém não no sentido comum que se atribui à palavra como "aguardar", e sim, no sentido proativo, ter profunda confiança de que as coisas podem melhorar, de que nem tudo está perdido, de que o sofrimento deve ser encarado antes como uma ferramenta de autoanálise do que como um fardo pesado demais para se suportar. Para que se tenha verdadeiramente esperança em Deus e na Vida, não nos olvidemos de que precisamos ter esperança em nós mesmos, acreditar em nosso potencial, sair das zonas de conforto, arregaçar as mangas e trabalhar dia após dia pelo nosso progresso e despertar. Deus não fará isso POR nós. Deus fará isso EM nós, mas se nós dermos o primeiro passo, porque nós somos Um com Deus. É a ação e reação, o buscai e achareis.
“Que a Vossa bondade
permita aos espíritos consoladores”
Cáritas pede ao lado Mãe de Deus, ao feminino, à bondade que a Consciência Cósmica autorize a intercessão proativa dos bons espíritos, dos mensageiros da luz, dos propagadores do amor, do bem, da verdade e da justiça que levem onde houver necessidade, carência, escuridão, sombra interior as energias salutares e consoladoras. Todos, antes de reencarnarmos na dimensão da fisicalidade, conforme programação prévia, passamos a ser tutelados por almas que já alcançaram condições melhores do que a nossa em adiantamento moral e intelectual, podendo assumir a condição de condutores, de amparadores, mentores, guias, anjos guardiões ou como mais se queira falar. É uma equipe que nos dá essa assessoria. Há um condutor individual, há os condutores familiares, os que comandam os diferentes ramos em que cada um de nós atua, que seriam como especialistas técnicos. Todos são ou podem ser consoladores. Precisamos não malbaratar a sua existência e permitir, através do nosso pensar, sentir, agir e falar, que eles se aproximem mais de nós, ou melhor, nós é que precisamos nos aproximar deles, pois eles são outorgados para estarem conosco nos auxiliando. Nós é que geramos o distanciamento vibratório-mental deles por alimentarmos outras faixas de corrente eletromagnética inferior quando densificamos nossos pensamentos e ações. É fácil transferir a responsabilidade (não culpa) quando dizemos que fomos abandonados por nosso anjo guardião, e ele ali do lado, não sabendo mais o que fazer para que repensemos nossos atos, paremos de passar o que é exclusivamente nosso para os outros e adotemos uma postura de humildade, permitindo a reconexão entre o pensamento nosso e o do guia.
“Derramarem por toda
parte a paz, a esperança e a fé.”
Se há paz, há a tranquilidade para que a conexão entre o ego e o Self se estabeleça, e este possa reger aquele.
Se há esperança, há sempre um horizonte, a cabeça está erguida, não há espaço para o esmorecimento, há força para lutar e vencer-se a si mesmo.
Se há fé, há confiança absoluta, há entrega, há o desejo de servir na certeza inabalável de que esse serviço será conduzido e orientado por mentes superiores que gerarão o bem a todos, indistintamente.
Cáritas fala em "derramar" como alusão à energia emanada dos planos superiores que penetra, de cima para baixo, como um bálsamo, o nosso centro da coroa, o centro energético chamado coronário. A energia-luz interpenetra os corpos superiores através de chakras ou centros energéticos ainda mais sutis, até alcançar o coronário, que propaga esse influxo magnético por todo o nosso corpo físico ou somático. É como se recebêssemos a água do chuveiro que vai penetrando, de cima para baixo, todos os poros, lavando e retirando todas as impurezas e tensões.
“Deus, um raio, uma
centelha do Vosso amor pode abrasar a Terra.”
DEUS é Amor, Amor é Luz Espiritual e Luz Espiritual é Fogo, é chama ardente, é o Cristo abrasador, flamejante. Tudo que vem de Deus é Amor, e esse amor vem na forma de Luz incandescente, porque o amor de Deus é transformador, é regenerador, é transmutador de padrões antigos para uma visão renovada da vida. O amor de Deus é, ao mesmo tempo, pacífico, calmo e também dinâmico. Respeita o ciclo de cada um, o tempo e o espaço, mas não para nunca, transforma sempre, suavemente, às vezes quase que imperceptivelmente, mas não cessa o movimento, não se cansa, não desiste, não desanima, não esmorece sob qualquer hipótese. O Amor de Deus é a certeza absoluta, não há espaço para a dúvida, para a insegurança. Por isso, esse fogo, essa centelha, essa chama sagrada pode abrasar a Terra. Ela é capaz de regenerar o céu e a Terra, é capaz de manifestar novos universos, é capaz de regenerar os universos existentes. Cáritas reconhece essa força, esse poder, e aqui faz reverência à polaridade masculina da consciência manifesta de Deus. Deus é a mãe, a concepção, é quem gesta o cosmo, é a docilidade, a bondade, o zelo, a sensibilidade, mas Deus também é o pai, é o que fecunda, o que deposita a semente da vida, o que expira o sopro da consciência, é o fogo, é o dinamismo, o movimento, a força, o poder, a energia avassaladora, o transformador, o realizador, e Deus ainda é o produto desta química universal, é o filho, é o fruto, é a própria Criação, é, enfim, a Trindade que está em tudo.
“Deixai-nos beber nas
fontes dessa bondade fecunda e infinita.”
Ora, só bebe em uma fonte que está com sede. Quem está com sede é porque não está saciado, falta algo, está carente de algo. Nós, seres da Criação, enquanto permanecemos mergulhados nas preocupações do dia-a-dia, buscando a subsistência a todo custo, esquecemo-nos de dar tempo a nós mesmos para o reencontro com a essência, damos pouquíssimo ou nenhum espaço para a inspiração, para a intuição, para o nosso canal interno de comunicação direta com a Mente Criadora, querendo alucinadamente achar respostas por conta própria, cegos em meio a nossa insegurança, ao medo de faltar, ao medo de perder, de tirarem o que é nosso, vivendo num constado estado mental patológico de quanto mais se tem, mais se quer, e maior ainda é a sensação de vazio, de falta, de incompletude. Nosso psiquismo já anda tamanhamente adoecido que podemos estar bebendo na fonte, tomando banho na fonte, em total abundância, e, simultaneamente, nossa mente não para de maquinar uma forma de conseguirmos mais, de fazer perdurar ao máximo esse esbaldar-se porque pode faltar, porque podemos perder, porque daqui a pouco podemos já não ter mais, e a mente fica tão absorta nessa ideia cristalizada que sequer curtimos o momento, passa batido, mal sentimos o prazer do que estamos vivenciando, porque a mente já está lá na frente, quer mais, precisa de mais... Vai que falta, né?... Meus irmãos, o que é isso? Aonde vamos parar? Isso sim é doença total. É uma síndrome insana, é um profundo desalinho de nossas almas em relação aos padrões cósmicos de abundância. Deus não deixa faltar nunca. Quanto mais Ele dá, tanto mais há o que oferecer. Ele é Fonte Inesgotável. Se a bondade de Deus é "fecunda e infinita", isso quer dizer que é como a terra fértil, também fecunda. Tudo que se planta dá. Não há escassez, não há falta. E como é infinita, é inesgotável. Se ocorrem as faltas em nossa vida, é porque nos relacionamos inadequadamente com os recursos da Providência. Já começamos com um engano gigantesco quando acreditamos ser proprietários de alguma coisa nesse mundo. Isso gera os padrões de perda. Se eu tenho, se algo me pertence, então estou suscetível a perdê-lo a qualquer tempo sim, óbvio. Só que o segredo da vida está nisso. Nós não temos, nós somos, eis a diferença fundamental. Não posso perder o que sou. Se eu sou, então eu sou e ponto final. Mas se tenho, isso que tenho não está em  mim, está fora, então pode ser retirado de mim a todo instante. Deus lapida-nos para que trabalhemos dentro da consciência do SER, e não do TER. Não somos proprietários nem do corpo de que estamos revestidos para essa experiência encarnatória. Tudo é um empréstimo, tudo está a nossa disposição para que façamos bom uso, transitemos livremente, porém sem apego. O apego nos faz ficar presos a algo, e somos espíritos livres, ou deveríamos ser livres. Enquanto não nos reconectarmos à ideia de que podemos transitar em todos os setores, viver infinitas experiências, mas sem nos agregarmos a nada, não conseguiremos nunca viver em liberdade. Os filhos não são nossos, os maridos e as esposas não são nossas, a casa não é nossa, o carro não é nosso, o emprego não é nosso. Todas as pessoas, os seres, as situações transitam conosco pelo mundo das experiências para aprendizado, amadurecimento e crescimento, mas NÃO SÃO PROPRIEDADE. Óbvio, se agimos como se tudo fosse nosso, criamos essa expectativa, vivemos conforme a realidade criado por nossas mentes, e a frustração, a tristeza, o desespero são garantidos, porque o universo não vai mudar suas leis em virtude de nossas crenças e da realidade ilusória que decidimos criar para nós mesmos. Deus é Amor Justo, e no Amor Justo não há espaço para a nossa teimosia se alastrar, ainda mais que o fruto dessa teimosia não é outro senão o desequilíbrio. Quando adotarmos a atitude de beber da fonte fecunda e infinita da bondade de Deus, estaremos, em outras palavras, despertos para essa realidade, assumindo novas posturas, compatíveis com as leis de ordem e harmonia cósmicas. Na realidade, isso tudo só se torna óbvio quando conseguimos fazer toda essa análise dentro de nós, do contrário, nada parece tão óbvio. A vida é simples até que a entendamos; antes disso, tudo é muito confuso e complexo, criando a ilusão de que o caos é a ordem da vida.
“E todas as lágrimas
secarão.”
A partir do instante em que compreendemos que nada é nosso, que nós apenas SOMOS e que o restante todo é empréstimo divino para que mergulhemos na experiência, não criamos mais expectativas, não criamos ilusões, não acalentamos frustrações, não nos decepcionamos, não sentimos culpa nem medo, não sentimos inveja ou ciúme (coisas bem diferentes, embora muitos as confundam), não fazemos cobranças, não prejulgamos, paramos de vez de detonar com todas as nossas possibilidades de sermos felizes, porque extirpamos a raiz da infelicidade, arrancamos a máscara do personagem, para ver o puro e simples ator, o ser como ele é: nós, cada um de nós. Se tudo isso desaparece, o sofrimento deixa de ter o valor de sofrimento, perde o significado que lhe atribuímos, passa a ser qualquer outra coisa, menos sofrimento tal qual o concebemos. A visão de mundo transforma-se totalmente, deixando de existirem os motivos pelos quais nos banhamos em lágrimas corriqueiramente. Esse é o espírito já mais maduro, que venceu a sua infância mental e que se mostra apto a novos desafios e descobertas. Que fique claro que nada disso é para ser encarado como teoria filosófica; muito antes pelo contrário, isso tudo precisa ser encarado como PRÁTICA filosófica, como atitude de quem deseja viver e agir com sabedoria. Vamos à luta!
“E todas as dores
acalmar-se-ão.”
Se ás lágrimas secarão e deixarão de correr, como não aliviariam sensivelmente as dores? Não são as dores que mais nos fazem sofrer e viver num vale de lágrimas? Mas a dor também é transmutada quando entendemos a razão de sua existência. A dor também deixa de ser dor. Quando adotamos as medidas internas necessárias para sairmos do sistema e observarmo-lo de fora, analisando-o com frieza e imparcialidade, tudo que é deixa de ser. Essa é a chave dos grandes mistérios. Essa é a aproximação à Consciência Cósmica e a nossa reconciliação com a Divindade, com a Força Suprema.
“Um só coração, um só
pensamento subirá até Vós.”
Aqui outra simbologia da Prece de Cáritas.  Coração não sobe, pura alegoria, pura figura de linguagem. O coração é a representação, por convenção, de tudo que está ligado aos sentimentos, àquilo que brota das entranhas de nossas almas. E o pensamento é a razão, o raciocínio, o intelecto. Assim, se nos despojamos de todos os padrões, de todos os paradigmas que aprisionam e nublam a visão que temos da realidade, podemos obter a unificação total entre nossos sentimentos e nosso intelecto, nossa razão. Deixam de existir as barreiras que separam esses dois aspectos do nosso ser, os quais são uma coisa só. Nossos sentimentos e nossa razão podem, enfim, elevar-se vibratoriamente, expandir-se, entrando em frequências muito mais sutis e puras que nos conectam à mente do Todo, para vivermos e compreendermos em maior plenitude as entranhas da Vida e a própria razão de nossas existências e do processo evolutivo ascensional. Isso é subir até Deus, o Pai-Mãe do Cosmo.
“Como um grito de
reconhecimento e de amor.”
Quando esse momento de unificação começa a se estabelecer concretamente, quando sentimos, quando experienciamos em nós, dando-nos a certeza de que É, a sensação é de paz, é de felicidade, é de libertação, é de reencontro conosco mesmos e é tão soberano, tão extasiante, tão avassalador que nossas consciências imortais gritam, vibram intensamente, mostrando o reconhecimento por toda a sabedoria desse intrincado processo de descoberta, cuja vitória propicia um prazer inigualável, é o êxtase do amor incondicional universal.
“Como Moisés sobre a
montanha.”
Queridos irmãos, notem que simbolismo interessantíssimo há por trás deste verso da Prece de Cáritas. Gente, claro que toda essa produção que venho fazendo conta com bagagem minha, de reflexões, de leituras, de estudos e análises, mas não sejamos ingênuos. O Marcelo, em sã consciência comum do dia-a-dia, não conseguiria traçar determinados paralelos, fazer certas analogias e alusões a aspectos que aparentemente não teriam conexão direta alguma, se não fosse a assessoria, inspiração, intuição, orientação de Seres amoráveis de luz que me têm assistido ao longo dessa caminhada terrena. A própria iniciativa de fazer essa releitura interpretativa das profundas mensagens e conhecimentos subjacentes a essa Prece não é obra minha, e sim orientação das Hierarquias do Bem. Louvado seja o nosso Senhor Jesus Cristo. Quando estava olhando para esse verso, a fim de construir sua interpretação, parecia haver um vazio, um branco, e a leitura ficava superficial, literal, tal qual o que está escrito. Mas eis que de súbito irrompe todo um quadro de significação mais profunda sobre nossa posição na vida e nosso psiquismo em expansão, algo que dificilmente se poderia interpretar a uma primeira leitura, e mesmo depois de várias. Só eu sei quantas vezes já proferi essa Prece em meu dia-a-dia, há quantos anos, e nunca havia feito associação parecida. Eis o que representa a conexão com a Fonte, com os mensageiros do amor e da sabedoria. Aqui não se trata tão apenas da figura do homem Moisés sobre uma montanha, remontando às cenas do período bíblico do Velho Testamento. Moisés representa aqui o homem, o ser humano elevado acima do senso comum, aquele que olha o sistema de fora, que não está no pé da montanha achando dificílima e cansativa a subida, quase inviável, intransponível. Aqui Moisés representa o nosso psiquismo, a nossa mente elevada acima da montanha dos problemas, das emoções aprisionantes, dos traumas, dos medos, das culpas, dos destemperos a que nos entregamos nas práticas cotidianas. Moisés está sobre a montanha, vendo tudo que está abaixo, à frente, atrás, à direita e à esquerda e mais além no horizonte, e acima, vindo do alto. Moisés não está enterrado nas aflições, submerso; olha o contexto com parcimônia, com imparcialidade em certo sentido, sua consciência está livre, acima, meditativa, sobrepõe-se ao caos aparente da vida, para entender os seus mecanismos intrínsecos, implícitos, subliminares. E Cáritas diz: "Como Moisés sobre a montanha", ou seja, usa a conjunção "como" em sua função comparativa, significa "assim como", "do mesmo modo que", "à semelhança de". Então, a ideia é de que façamos tal qual Moisés o fez, a ideia é de que apliquemos na prática tudo sobre o que estamos refletindo e analisando até aqui, adquirindo o nível consciencial, assim como Moisés, de estar acima do senso comum, acima dos problemas, acima das tribulações, dando uma parada geral momentânea, dando o tempo necessário para respirarmos e, com lucidez e clareza, observando de cima e de fora, encontrarmos os meios de transformação da nossa realidade através da conexão e alinhamento com a mente harmonizada e ordenada da Consciência Criadora, que está dentro de nós, voltamos a dizer. Só que não há como fazer isso sem  parar, sem dar-se o tempo para isso, sem sair do sistema para vê-lo sob uma perspectiva mais ampla e menos caótica. Eis a razão-matriz das palavras da irmã Caridade.
“Nós Vos esperamos de
braços abertos.”
Quando cruzamos os braços, ou o fazemos para colocar em repouso tais membros, ou o fazemos por instinto de proteção. Cruzar os braços também representa fechar-se, colocar-se em guarda, a fim de que não adentrem nosso campo de energia,  nossa intimidade. É um recurso de defesa, pois cruzamos as polaridades positiva e negativa de que somos constituídos, sendo um dos lados o positivo (normalmente o direito) e o outro o negativo (normalmente o esquerdo). É como o magneto, o ímã. Se fazemos o cruzamento, geramos a obstrução do fluxo eletromagnético que circula através do nosso corpo, pelas correntes centrípeta e centrífuga. Se o cruzamento for intencional para esse fim, a obstrução é ainda maior, pois emitimos o comando mental, e a mente é tudo. Porém, se isso é fato, o oposto a isso também o é. Quando abrimos os braços, desarmamo-nos, colocamo-nos em estado de entrega, tornamo-nos receptivos, pois abrimos espaço para receber, para fluir, para deixar as correntes agirem por todo o nosso ser. Os braços abertos representam o louvor, a confiança no outro e a autoconfiança, o destemor. Os braços abertos também simbolizam o "mãos à obra", vamos trabalhar. O centro cardíaco fica à mostra, tanto para doar o que tem dentro de si como para receber o que vem de fora. Assim, se Moisés esperava o Senhor de braços abertos sobre a montanha, isso quer dizer que se tornava receptivo para deixar-se penetrar da LUZ emanada da Consciência Superior, possibilitando total expansão de consciência, elevação do padrão vibratório, abertura dos canais de percepção psíquicos (a sensitividade, a paranormalidade, a mediunidade), oportunizando a si mesmo a condição de servir de instrumento da Vontade do Alto. É o símbolo da experiência mística mais profunda, pessoal, intransferível, impossível de ser pormenorizadamente descrita em palavras, pois não existem parâmetros suficientes na materialidade da 3ª dimensão em que nos encontramos para que tudo isso possa ser racionalmente explicado. Mas não nos esqueçamos: esse é o caminho de cada um de nós, essa é a proposta da existência. Alcançar a fusão com o Pai-Mãe da vida.
“Ó, Poder! Ó, Bondade!
Ó, Beleza! Ó, Perfeição!”
Esse é um verso tipicamente marcado pelo louvor, pela reverência à Divindade, é um curvar-se diante de seus atributos magnânimos. Reconhecendo tal magnitude, não há por que não abrir os braços, não há por que não entregar-se inteiramente, pois a Consciência Divina aqui é reconhecida como tudo o de que precisamos, tudo o que queremos e tudo o que somos em nossa essência, enquanto filhos de Deus. Vemos aqui expressas quatro virtudes, ou melhor, três, pois há uma que é a união das demais. Mais uma vez, há o reconhecimento de Deus como sendo o Pai-Mãe da vida. Poder é atributo marcadamente de polaridade masculina, enquanto que a bondade e a beleza estão predominantemente relacionadas à polaridade feminina de nosso universo bipolarizado. Três atributos, uma trindade. O poder é força, e a força só é canalizada construtivamente quando regida pela bondade, e o produto disso é algo belo. O que ocorre na união dessas qualidades é o mesmo que a força de um homem direcionada pela brandura e afago de uma mulher, o que confere a temperança a essa força, gerando bons frutos, aqui simbolizado pelo belo. Isso é um ato de perfeição, é um ciclo completo em plena harmonia, isso é, em outras palavras, a criação de Deus. Vale lembrar que todos nós somos um templo, o Templo de Salomão, e que esses atributos-polaridades são correntes vitais de força que habitam a nossa intimidade. Não se trata de pensar que o homem só se completa na mulher vice-versa. Os atributos são da alma, e a alma só pode completar-se nela mesma, devendo encontrar em si todos os recursos para a plenitude de sua felicidade.
“E queremos fazer-nos
merecedores de Vossa misericórdia.”
Há, sem sombra de dúvida, uma sensível diferença entre ser merecedor e sentir-se merecedor. Como somos todos filhos do Criador, não há quem não seja, em princípio, merecedor. No entanto, para que nos sintamos plenos, não nos basta saber que somos merecedores por natureza. Precisamos sentir que esse mérito é fruto de uma conquista, e só se conquista algo a partir do esforço e do trabalho. Cáritas reconhece essa necessidade quando profere "E queremos fazer-nos merecedores". A misericórdia é a compaixão, é o dividir o fardo. E esse é o amor de Deus. Fazer-se merecedor é, em outras palavras, conseguir subir o padrão vibratório de nossas mentes, emoções, sentimentos, sintonizando com a frequência da Sabedoria Divina, a qual passa, a partir de então, pelo canal da intuição que todos temos, a guiar nossos passos por caminhos mais seguros, acelerando a nossa ascensão espiritual. Elevar esse padrão vibratório, como todos bem conhecemos, não é algo tão simples na vida cotidiana, pois temos de constantemente lapidar os nossos instintos mais primários, sublimando-os por posturas mais condizentes com uma nova frequência de energia muito mais alta. Isso exige muita disciplina e esforço pessoal constante, dá trabalho, como costumamos dizer, e se nos dá trabalho, quando conseguimos ser minimamente bem sucedidos, sentimos a satisfação interior do mérito, ou seja, fizemos por merecer, nada nos chegou tão-somente pela graça divina. Claro que se tudo é Deus, até nosso impulso por nos autoburilarmos é direcionado pela Consciência Cósmica, mas essa ação, aos nossos olhos, se dá de forma indireta, fazendo parecer que somos nós que estamos construindo nosso mérito, ajudando-nos a eliminar o conhecido pela Kabbalah como o Pão da Vergonha.
 
“Deus, dai-nos a força
de auxiliar o progresso.”
Mais do que força física, o que se pede aqui é a força moral, a força espiritual e ética para vencer-se a si mesmo, e por meio desse empenho surge o progresso, que é a superação, que é a soma das experiências já vivenciadas às novas situações que nos surgem a frente, testando-nos as reações e garantindo mais aprendizado, mais bagagem. Assim, progresso não é deixar o passado que tivemos, querendo apagá-lo, para vivenciar coisas novas. Na essência divina, não se elimina nada, tudo é reaproveitado. Em verdade, progresso é aprender com tudo o que já foi vivido, tirar o melhor possível de cada experiência, inclusive daquelas que taxamos como traumáticas, para então construir o novo, o diferenciado, o algo a mais. Quando tentamos excluir algo de nossas vidas pelo simples fato de considerarmos que o vivido foi negativo exclusivamente, desperdiçamos uma chance ímpar de ver que tudo é útil na caminhada ascencional dos seres. Seja o que for que nos aconteça, não importa o quê, é de grande sabedoria não praguejarmos, pois isso despende muita energia vital à toa, não nos acrescentando nada. Antes, perguntemos: o que preciso aprender com o que me aconteceu? Qual o objetivo de eu ter passado por tal situação? O que vivenciei foi instrumento importante e necessário para fazer-me despertar a respeito de que aspecto de minha vida? Ainda que a resposta não venha de imediato, pois na maioria das vezes não vem, o que vale é que esse estado de consciência em que nos colocamos com abertura para a busca de respostas construtivas gera uma condição receptiva muito mais favorável em nossas vidas, permitindo que a caminhada flua naturalmente, seguindo o seu curso até um momento em que a resposta se mostra pronta diante de nós, sem grandes esforços, e a sabedoria maior estará em, além de tudo isso, sabermos que o que mais valeu e acrescentou não foi a resposta em si, mas toda a caminhada e seu percurso sinuoso que ajudou a construir a resposta. Em miúdos, o que vale é a experiência, muito mais do que o resultado dela.
“A fim de subirmos até
Vós.”
O verso anterior praticamente elucida já este, todavia há um ponto significativo ainda a ser ressaltado aqui. Somos nós que subimos ao Criador, e não ele que desce até nós. A elevação vibratória depende de nós, das nossas escolhas, do nosso querer, da nossa flexibilidade de conceitos e maneiras de ser-no-mundo. O trabalho é só nosso. A Grande Mônada Cósmica já está onde tem de estar. Nós nos distanciamos da plenitude, portanto somos nós que sentimos falta de viver a plenitude, portanto não é a plenitude que deve vir nos preencher o vazio, mas nós que devemos nos abandonar em profunda entrega, de corpo e de alma, com todo o nosso querer e poder de decisão, aos caminhos que nos conduzem a essa reconexão ao Todo, à Fonte Imanente que dispõe de tudo que necessitamos para nos sentir integrais, plenos. Esse é o "Seja feita a Vossa Vontade" para que "Venha a nós o Vosso Reino".
“Dai-nos a caridade
pura.”
Se devemos ser caridosos, até porque é o Cristo que afirma "Fora da caridade não há salvação", o primeiro que precisa de caridade somos nós mesmos. E caridade está muito longe de se restringir ao dar uma esmola a quem quer que seja. Não há como progredirmos se não formos caridosos, e não há como sermos caridosos com ninguém sem construirmos antes esse estado de espírito superior em nós mesmos. O progresso exige soma de experiências e aprendizagem a partir de cada nova vivência. E quem está experienciando a vida não sabe o que vem pela frente, não tem ainda o domínio e fica sujeito, portanto, ao tropeço, ao equívoco. No equívoco, também há experiência e aprendizado, mas é preciso ter olhos de ver e ouvidos de ouvir, como apregoa o Cristo. E não há como adquirir experiências com aprendizagem, mesmo a partir de consequências que taxamos como ruins, negativas, sem que tenhamos atitude interior de caridade pura, ou seja, precisamos estar cem por cento desarmados, desprovidos de máscaras psicológicas para conosco mesmos, devemos ser compreensivos conosco em nossos tropeços, humildes, para podermos ter a grandeza de nos perguntarmos: "O que eu preciso aprender com meu tropeço, com meu erro?". E precisamos ter gratidão, agradecer essas experiências que chamamos de erros ou equívocos, porque também são nossos professores. Se somos orgulhosos, não admitimos o erro, não nos perdoamos pelo tropeço, não queremos aceitar a falibilidade e, pior, não enxergamos que ao falirmos recebemos a bênção de poder entender algo que, talvez, sem cair, jamais nos daríamos conta. A sabedoria está nisto: em não excluirmos nada, nenhuma possibilidade de encontrarmos sentido e mensagem em qualquer coisa que nos aconteça. E enquanto não formos capazes de sermos caridosos para conosco mesmos, valorizando o acerto e o erro, não há como estarmos lúcidos o suficiente para praticarmos a caridade mais profunda com o nosso próximo, por mais abominável que nos possa parecer, eventualmente, uma atitude sua. 
“Dai-nos a fé e a
razão.”
Cáritas roga à Consciência Superior que não a deixe cair no fanatismo, mas que também não a faça uma cética. Sim, porque a fé sem razão exagera para o fanatismo, e a razão sem fé é como uma árvore sem vitalidade, seca, caindo no ceticismo. Cáritas quer o equilíbrio, quer raciocinar para compreender melhor as coisas de Deus, mas também quer a fé inabalável para que seu raciocínio seja criativo, pleno de iniciativa, e para que não recaia constantemente sobre a angústia da dúvida, da incerteza. Em verdade, o que Cáritas deseja é um símbolo do que é o caminho do meio, o caminho de Buddha para todos nós, irmãos de caminhada.  A fé e a razão são o grau sublimado da religião e da ciência. Na história, antes de existir a ciência materialista reducionista tal qual podemos verificar imperando ainda nos grandes centros de pesquisa do mundo, não havia a barreira que se criou entre a ciência e as religiões. Astrologia, alquimia, magia, filosofia, medicina natural eram ciência e religião. Passados vários séculos em que essas ciências foram descreditadas e vulgarizadas ao nível do charlatanismo e da crendice, diante da soberania acadêmica e científica tradicional, hoje, com o despontar da Física moderna, dimensionando a realidade no nível quântico, em teorias que têm posto em questionamento ao último grau a constituição da matéria, que parece ser bem mais imaterial do que o que se crê, voltam a ganhar credibilidade  crescente e mesmo tom científico os conhecimentos que até há pouco não passavam de mero misticismo, confirmando a sabedoria milenar a nós legada pelas grandes civilizações da antiguidade.
“Dai-nos a
simplicidade.”
Que maravilha o mundo seria se todos buscássemos viver com simplicidade. Simplicidade para decidir as coisas. Simplicidade optando pela honestidade, pois mentir dá muito trabalho e torna tudo muito mais complexo. Simplicidade no relacionamento interpessoal. Simplicidade na forma de se dirigir a Deus, sem ritos exagerados que mais obstruem as múltiplas formas de Ele se comunicar conosco do que facilitam. Simplicidade ao interpretar as coisas tais quais elas realmente são, e não conforme o mascaramento que criamos para "dourar a pílula", como se diz, dando-lhes o matiz que melhor nos convém. Simplicidade para admitir os próprios erros e traçar novas escolhas e caminhos. Simplicidade para respeitar o meio ambiente e viver de acordo com as leis da natureza. Simplicidade para ser feliz com os pequenos encantos da vida e com todas as oportunidades que recebemos para evolução pessoal. Simplicidade para saber reconhecer essas oportunidades. Simplicidade, enfim, para desistir de viver sob o jugo do Ego e para entregar-se em definitivo e por inteiro aos comandos e desígnios de nossa Consciência Superior.
“Que fará de nossas
almas um espelho.”
Optar pela simplicidade nada mais é do que conectar-se à essência. A essência é luz, é cristalina, é resplandescente, é vida em equilíbrio. Viver com simplicidade é viver em coerência com os valores divinos, que nada mais são do que os largamente apregoados no Evangelho. Esses valores geram limpidez, pureza da alma, retiram todas as "cascas", todas as vibrações de baixa frequência que obstruem o livre fluxo da luz que somos, da centelha divina, do Eu Sou. Se almas estão limpas, estão tranquilas, como as águas de um lago em dia de sol e sem vento, apenas com uma suave brisa que nos acaricia a face.
“Onde se deve refletir
a Vossa Divina Imagem.”
E se o lago está calmo e límpido, reflete perfeitamente a imagem. Se somos Deus e se nossas almas estão vibratoriamente alinhadas à Consciência Crística Divina, o espelho não poderá refletir outra imagem que não seja a perfeição de Deus, sua obra em seu esplendor maior.
         Como leitura complementar, sugerimos a obra de Regis de Morais: Cáritas e sua prece histórica, da editora Allan Kardec.