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terça-feira, 25 de dezembro de 2012

"Muito será cobrado a quem muito foi dado"

Esta máxima aparece na obra "O Evangelho Segundo o Espiritismo" em seu capítulo XVIII. 
Partindo-se para um estudo mais aprofundado da significação simbólica e espiritual dessa mensagem, verificamos que não se pode esperar o mesmo daquele que recebeu (desenvolveu) menos do que daquele que recebeu (aprimorou-se) mais. É importante adquirirmos a compreensão de que o quanto recebemos é proporcional ao esforço que fazemos para nos transformarmos. Existe uma interação de energias cósmicas no universo, impulsionadas pelo princípio de expansão e atração. Assim, se damos, se doamos de nós mesmos, se liberamos para o universo uma grande quantidade de energia despendida em esforços físicos, mentais, emocionais, morais e espirituais de autoburilamento, então podemos receber duplicadamente as energias de bênçãos, de luz, de conhecimento, de abundância, de sabedoria. Isso é da Lei do Trabalho. tudo no universo trabalha, move-se, vibra. Se não produzimos nada dentro de nós e fora de nós, se não vibramos, se não movimentamos, se não trabalhamos, não nos sentimos no direito de receber nada, porque nossa consciência nos acusa que devemos fazer por merecer, que devemos lutar para conseguir o sucesso no que quer que seja. Trazemos uma "vergonha interior", consciencial, que não nos faz considerar lícito receber abundantemente sem nada ter feito para recebermos tanto.
Com base nesta premissa, se sou um camponês, empregado de fazenda, e você é um fazendeiro, proprietário de muitos alqueires de terra, materialmente falando, mais será cobrado de você do que de mim, porque seu poder material, financeiro, é muito maior do que o meu quanto às possibilidades que cada um de nós tem no proveitoso emprego de nossas posses. Todavia, suponhamos que você, o fazendeiro, tenha sido largado pelo pai aos cuidados da mãe quando você ainda era muito pequeno; tenha raiva de sua mãe porque acredita que ela tenha sido a culpada por seu pai tê-los deixado; não tenha ouvido os bons conselhos da mãe sobre ser um homem de bem; tenha decidido se rebelar e conquistar sua independência saindo de casa o quanto antes, não importasse os meios; tenha se casado com um moça de família abastada, sendo o sogro o maior criador de gado e exportador de produtos agrícolas da região; distrate sua esposa todos os dias, humilhando-a e tenha enganado o sogro, fazendo-o adquirir grande confiança por você inicialmente, até convencê-lo a assinar um belíssimo e vantajoso contrato que nada mais era, em verdade, do que um documento que o fazia perder tudo e passar todas as propriedades para o seu nome. E suponhamos também que eu, o camponês, seja filho de família também humilde, tenha aprendido a levantar à primeira hora do despontar do sol no horizonte para trabalhar no campo; tenha aprendido que uma das coisas mais valiosas da vida é conquistar aquilo que se pode através do trabalho honesto; nutra os valores deixados pelos meus pais de companheirismo, respeito, dignidade, honestidade, franqueza, ajuda ao próximo, seja alguém mais necessitado do que eu materialmente, seja alguém que precise de uma palavra amiga; tenha me casado com uma moça de família também abastada, mas tenha preferido permanecer nas lidas do campo, sem  nunca ter por segunda intenção os benefícios materiais de que poderia desfrutar no convívio com uma família que desconhece o que é a carência; tenha decidido trabalhar para o sogro, em suas terras, visando melhorar a qualidade do que aquela terra poderia oferecer aos outros, cuidando de tudo com o amor de quem cuida do que é seu e ficando feliz em ver a prosperidade do sogro, da família de minha esposa, sabedor de estar contribuindo positivamente para o engrandecimento de todos.
Agora vem a questão. Quem possui mais riquezas? Quem recebeu mais? Quem carrega em si conquistas duradouras que levará consigo durante esta e outras existências? Veja como tudo depende do contexto, e veja o quanto tomamos decisões e fazemos julgamentos precipitados a partir de informações superficiais que recebemos. Para quaisquer efeitos, bastou dizer que um é fazendeiro e outro é camponês humilde para que nosso martelo da razão já saia batendo como um juiz no tribunal que define quem recebeu mais. Porém a sabedoria jamais bate o martelo, jamais julga ("Não julgueis para que não sejais julgados"), a sabedoria analisa, pondera, dá o tempo necessário para conhecer em profundidade as coisas, sempre disso advindo resposta satisfatória, solução certa e segura para todas as questões. 
Um é provido de grandes riquezas materiais, mas carrega em seu íntimo um abismo existencial e moral, um vazio de riquezas da essência. O outro vem de um berço pouco afortunado, mas recebe uma formação reta e traz em seu íntimo altos valores que o tornam dono de um tesouro inigualável. E perante o Pai, quem é mais rico? Quem recebeu mais? E quem, tendo recebido mais, pode ser mais cobrado? E quem cobra, afinal?
Quem cobra é Deus? Sim e não. Quem cobra, a bem da verdade, é nossa Consciência, e como tudo é manifestação de Deus, a consciência também o é. A nossa Consciência Superior, aquela que tudo sabe, que registra o passado, o presente e calcula as possibilidades futuras, e que está conectada à mente de Deus, sabe a medida do quanto podemos render em termos de trabalho, de desenvolvimento, de elevação moral. Deste modo, aos olhos do Criador, nossa riqueza é medida pelo nível mais ou menos ampliado de consciência que temos da realidade que nos circunda, e em conformidade com essa amplitude, determina se nossa condição é mais doadora ou receptora em dado momento. Isso explica por que um dado ato infracional tem um peso para quem ainda vive na consciência concreta, adormecida quanto às verdades maiores, enquanto apresenta outro peso completamente distinto para quem vive conectado à Consciência Superior. Quem é consciente do que faz, não admite certas posturas, não é verdade? Quem nos cobra somos nós mesmos.

2 comentários:

  1. Respostas
    1. Que bom, Cíntia de Melo Machado, obrigado pela visita ao meu blog. Espero ter podido contribuir positivamente com os dizeres dessa reflexão.

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